Os ursos-polares são provedores essenciais para dezenas de espécies do Ártico, revela novo estudo
Foto: Wayne Lynch
Um estudo internacional liderado por investigadores da Universidade de Manitoba e da San Diego Zoo Wildlife Alliance mostra que os ursos-polares deixam anualmente milhões de quilos de alimento que sustentam uma vasta rede de necrófagos no Ártico.
Os ursos-polares não são apenas os maiores predadores do Ártico — são também, segundo um novo estudo publicado na revista científica Oikos, fornecedores fundamentais de alimento para dezenas de outras espécies da região.
A investigação, conduzida por cientistas da Universidade de Manitoba (Canadá), da San Diego Zoo Wildlife Alliance, do Ministério do Ambiente e Alterações Climáticas do Canadá e da Universidade de Alberta, estima que estes animais deixem para trás cerca de 7,6 milhões de quilogramas de presas por ano. Esta carne abandonada, proveniente sobretudo de focas, constitui uma fonte vital de energia para uma ampla rede de espécies necrófagas.
Wayne Lynch
“Pela primeira vez conseguimos quantificar a dimensão do papel dos ursos-polares como fornecedores de alimento e a sua importância na interligação do ecossistema ártico”, explica Holly Gamblin, autora principal do estudo e doutoranda na Universidade de Manitoba. “Não existe outra espécie que substitua o modo como o urso-polar caça — retirando as presas da água e deixando restos substanciais sobre o gelo, acessíveis a outras espécies.”
O estudo identificou pelo menos 11 espécies de vertebrados que beneficiam diretamente destas carcaças — entre elas as raposas-do-ártico e os corvos —, bem como oito outras espécies potenciais que dependem deste recurso em menor grau.
Um elo vital entre o mar e a terra
Ao caçarem focas sobre o gelo marinho e deixarem restos de presas, os ursos-polares transferem energia do oceano para a superfície gelada, tornando-a acessível a animais terrestres. Esta dinâmica revela um elo ecológico essencial entre os ecossistemas marinho e terrestre do Ártico.
Contudo, os cientistas alertam que o aquecimento global e a perda de gelo marinho ameaçam este delicado equilíbrio. A diminuição das populações de ursos-polares não afeta apenas a espécie em si, mas também todas as que dependem dos recursos que ela gera.
“O gelo marinho é uma plataforma que permite o acesso de muitas espécies a esses recursos”, explica Nicholas Pilfold, cientista da San Diego Zoo Wildlife Alliance. “Com o declínio do gelo e das populações de ursos-polares, estimamos que algumas subpopulações já tenham provocado a perda de mais de 300 toneladas de alimento para necrófagos por ano.”
Foto: San Diego Zoo
Impacto em cadeia num ecossistema frágil
Os resultados reforçam a interdependência das espécies árticas e a vulnerabilidade partilhada perante as rápidas alterações ambientais. A eventual redução drástica dos ursos-polares poderá, segundo os investigadores, desencadear uma cascata ecológica com consequências imprevisíveis para todo o ecossistema do Ártico.
O estudo é um alerta para a urgência de proteger os ursos-polares — não apenas por serem uma espécie emblemática ameaçada, mas também pelo papel crucial que desempenham na manutenção da biodiversidade do norte gelado.
Fonte: San Diego Zoo Wildlife Alliance / Universidade de Manitob