Novo estudo revela que morcegos carnívoros utilizam estratégias de emboscada altamente eficientes, com taxas de sucesso muito superiores às dos grandes predadores
Um grupo internacional de investigadores liderado pela Universidade de Aarhus (Dinamarca) e pelo Instituto Smithsonian de Investigação Tropical (STRI), no Panamá, descobriu que alguns dos menores predadores do mundo conseguem caçar com a eficácia dos maiores – e, em muitos casos, com ainda mais sucesso.
O protagonista deste estudo é o morcego Trachops cirrhosus, um pequeno mamífero das florestas tropicais do Panamá, conhecido por se alimentar de rãs, aves e pequenos mamíferos. Para compreender como estes morcegos caçam na natureza, os investigadores equiparam 20 indivíduos com minúsculas “mochilas” – dispositivos de “biologging” que registaram todos os movimentos e sons, tanto dos próprios morcegos como do ambiente em redor.

Foto: Grant Maslowski
Predadores em miniatura com táticas de felinos
Os dados recolhidos revelaram algo surpreendente: em vez de voarem incessantemente em busca de presas, estes morcegos adotam uma estratégia de “espera e emboscada”, semelhante à dos grandes felinos. Passam longos períodos imóveis, pendurados em ramos ou folhas, à escuta de sons produzidos por potenciais presas – especialmente os chamamentos das rãs.
Quando detetam uma oportunidade, atacam com precisão e rapidez impressionantes. A maioria dos voos de caça registados durou menos de três minutos, e o tempo médio de ataque foi de apenas oito segundos. No total, os morcegos permaneceram imóveis durante 89% do tempo de observação, poupando energia.
O resultado? Uma taxa de sucesso de cerca de 50% nas tentativas de caça – muito superior à dos leões (14%) ou dos ursos polares (2%).
Pequenos corpos, grandes presas
Apesar do seu tamanho reduzido – cerca de 30 gramas –, estes morcegos conseguem capturar presas surpreendentemente grandes, como a rã gladiadora de Rosenberg, que pode atingir 20 gramas. Em média, cada presa pesa cerca de 7% do peso corporal do morcego – o equivalente a uma pessoa de 70 quilos comer uma refeição de cinco quilos.
Num dos registos mais marcantes, um dos morcegos passou 84 minutos a mastigar uma única presa.
Energia máxima com esforço mínimo
Segundo os investigadores, este comportamento faz destes morcegos alguns dos predadores mais eficientes energeticamente do planeta. Conseguem ingerir quase o seu próprio peso em alimento numa única refeição, mantendo-se ativos com um gasto mínimo de energia.
“Foi incrível descobrir que estes morcegos caçam como grandes predadores presos em corpos minúsculos”, afirma Leonie Baier, investigadora principal e bolseira Marie Skłodowska-Curie na Universidade de Aarhus e no STRI. “Em vez de passarem a noite a voar incessantemente, esperam pacientemente, atacam com precisão e, por vezes, capturam presas enormes. Esta descoberta desafia completamente as nossas ideias sobre o que pequenos animais são capazes de fazer.”
A experiência conta
O estudo também revelou que os morcegos mais velhos capturam presas maiores, o que sugere que a habilidade de caça melhora com a experiência. Estes morcegos são conhecidos por recordar chamamentos de rãs durante anos e até aprender novas técnicas observando outros indivíduos.
Para Laura Stidsholt, professora assistente na Universidade de Aarhus e autora sénior do estudo, os dados representam uma janela inédita para o mundo secreto destes predadores noturnos:
“Com os nossos sensores, pudemos ouvir e sentir o que os morcegos experienciam na floresta. É um mundo escondido de paciência, precisão e sobrevivência no escuro.”
O estudo foi publicado na revista científica Current Biology e oferece novas perspetivas sobre como o tamanho corporal nem sempre determina a estratégia – ou o sucesso – de um predador.


