Uma equipa da Universidade de Binghamton vai investigar mecanismos que explicam a acumulação de gelo na Antártida durante períodos de aquecimento global há milhões de anos.
Um grupo de investigadores da Universidade de Binghamton, nos Estados Unidos, vai estudar de que forma padrões antigos de humidade contribuíram para o crescimento das calotas polares da Antártida em períodos de clima mais quente. O objetivo é compreender melhor como o gelo antártico poderá reagir ao aquecimento global atual e futuro — e, assim, melhorar as previsões sobre a subida do nível do mar.
O projeto, liderado pela professora assistente Adriane R. Lam e pela investigadora pós-doutoral Imogen M. Browne, ambas do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Binghamton, recebeu financiamento da National Science Foundation (NSF), através do programa P4Climate (Paleo Perspectives on Present and Projected Climate).
Segundo Lam, o financiamento é particularmente significativo porque o programa foi recentemente arquivado, após cortes de 88% no orçamento do Office of Polar Programs (OPP), que levaram ao cancelamento de várias expedições e bolsas de investigação na Antártida. “Tivemos muita sorte em ser uma das últimas equipas a receber este apoio”, sublinhou a investigadora.
O estudo vai focar-se no Óptimo Climático do Miocénico, um período entre há 17 e 14,7 milhões de anos em que as temperaturas médias globais eram cerca de 7 a 8 °C mais altas do que as atuais e as concentrações de dióxido de carbono atingiam pelo menos 500 partes por milhão — níveis comparáveis aos que o planeta poderá alcançar neste século.
Durante esse período, o planeta registou uma combinação de aquecimento global e expansão localizada de gelo antártico, um aparente paradoxo que os cientistas pretendem agora explicar. A hipótese em estudo é que o aumento da humidade atmosférica e do transporte de vapor de água para o continente gelado tenha gerado mais precipitação em forma de neve, promovendo a acumulação de gelo mesmo num contexto de aquecimento.
Para testar esta ideia, a equipa de Lam e Browne — que inclui ainda Ruthie Halberstadt, da Universidade do Texas em Austin, e Paul Acosta, da Universidade George Mason — vai recorrer a modelos climáticos e de calotas polares comparados com registos geoquímicos de microfósseis marinhos (foraminíferos) recolhidos em sedimentos do fundo do mar. Estes fósseis guardam informações sobre o volume de gelo e as condições químicas dos oceanos do passado.
As simulações irão considerar variáveis como temperatura dos oceanos, cobertura de gelo marinho, vegetação e mudanças orbitais da Terra — fatores que afetam a distribuição da radiação solar e, por consequência, o transporte de calor e humidade para a Antártida.
“Estudar o Miocénico é fascinante porque o sistema climático da Terra funcionava de forma diferente da atual”, explicou Browne. “Os registos climáticos que produzimos a partir de núcleos de sedimentos marinhos oferecem-nos uma perspetiva única sobre como o planeta pode reagir a condições mais quentes e húmidas.”
Browne tem experiência direta na investigação antártica. Em 2018, participou na Expedição 374 do Programa Internacional de Descoberta Oceânica (IODP), que perfurou o fundo do mar na região do Mar de Ross, onde se formam as massas de águas profundas mais frias do planeta. Foi nessa expedição que conheceu Molly Patterson, professora associada em Binghamton, com quem atualmente colabora no pós-doutoramento.
Para Lam, o impacto do projeto vai além da ciência fundamental. “Esta investigação é importante não só pelo conhecimento que vai gerar, mas porque junta jovens investigadores com competências complementares para abordar um problema que tem implicações diretas para a sociedade”, afirmou.
Os resultados do estudo e os dados de volume de gelo produzidos serão partilhados com a comunidade científica internacional e contribuirão para os esforços globais de síntese sobre o futuro do nível do mar, num contexto de rápido aquecimento climático.


