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Como os mosquitos nos encontram com tanta precisão?

Estudo da Universidade da Califórnia em San Diego utiliza tecnologia de imagem avançada para desvendar as estruturas que permitem aos mosquitos localizar as suas vítimas

Por muito que tentemos evitá-los, eles acabam sempre por nos encontrar. Seja num piquenique de verão, num passeio pelo campo ou simplesmente no jardim de casa, o zumbido é inconfundível — e, em poucos segundos, somos picados. Mas afinal, como é que os mosquitos nos encontram com tanta precisão?

Investigadores da Universidade da Califórnia em San Diego (UC San Diego) deram agora um passo importante para responder a essa pergunta. Utilizando tecnologia de imagem de última geração, a equipa capturou imagens inéditas das estruturas microscópicas que permitem aos mosquitos detetar o dióxido de carbono (CO₂) que libertamos ao respirar — um dos principais sinais que os orienta até ao seu “alvo”.

As intrincadas lâminas de dendritos de neurónios especializados na detecção de dióxido de carbono (em primeiro plano) auxiliam na capacidade de detecção de um mosquito da febre amarela, que se esconde ao fundo. Crédito: Hassan Tahini @ ScienceBrush

O estudo, conduzido no Centro Nacional de Microscopia e Investigação por Imagem da UC San Diego, foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). A investigação foi liderada pelos estudantes de licenciatura Shadi Charara e Jonathan Choy, sob a orientação da professora Chih-Ying Su, do Departamento de Neurobiologia.

“No passado, já se tinha especulado sobre estes mecanismos, mas era difícil compreendê-los em detalhe”, explica Su. “Agora temos um modelo 3D realista que nos permite medir quantitativamente a área sensorial. É a primeira vez que vemos este nível de detalhe.”

Uma arquitetura microscópica altamente especializada

Os mosquitos detetam o dióxido de carbono através de pelos sensoriais localizados nas suas antenas. No interior desses pelos existem neurónios olfativos especializados (ORN), alguns dos quais são dedicados exclusivamente à deteção de CO₂.

Usando uma técnica chamada microscopia eletrónica de corte em série (serial block-face electron microscopy), os investigadores conseguiram criar modelos tridimensionais à escala nanométrica destas estruturas em Aedes aegypti, a espécie responsável pela transmissão de doenças como a dengue, o zika, a febre amarela e o chikungunya.

As novas imagens revelaram adaptações anatómicas notáveis. Dentro dos pelos sensoriais, os cientistas observaram dendritos com superfícies ampliadas para captar CO₂ e uma arquitetura neuronal rica em mitocôndrias, o que indica uma elevada exigência energética — essencial para garantir uma sensibilidade extrema ao gás que exalamos.

“Estas características sugerem que os neurónios olfativos evoluíram adaptações metabólicas e estruturais muito específicas para desempenhar o seu papel na procura de hospedeiros”, escrevem os autores.

Mosquitos vs. moscas-da-fruta: dois usos muito diferentes do mesmo sinal

Os investigadores compararam ainda estas estruturas com as de moscas-da-fruta, outro inseto amplamente estudado. Descobriram que, embora ambas as espécies consigam detetar dióxido de carbono, nas moscas a área sensorial é muito menor e cumpre uma função oposta: serve como sinal de alarme, levando-as a afastar-se da fonte de CO₂.

“Para as moscas, o dióxido de carbono é um aviso de perigo. Para os mosquitos, é um convite — é o que desperta todo o seu comportamento de busca por sangue”, explica Su.

Um passo em frente no combate ao “animal mais mortífero do mundo”

Os mosquitos são responsáveis pela transmissão de algumas das doenças mais letais do planeta. Ao desvendar em detalhe os mecanismos que lhes permitem encontrar seres humanos, este estudo abre caminho para novas abordagens no controlo destes insetos — por exemplo, através do desenvolvimento de repelentes mais eficazes ou armadilhas baseadas em estímulos sensoriais.

Com estas novas imagens tridimensionais, os investigadores da UC San Diego esperam que a ciência fique um passo mais próxima de compreender — e talvez um dia contrariar — a notável capacidade dos mosquitos para nos encontrar.

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