Uma maré de algas está a assolar a Austrália do Sul desde o início do outono de 2025, provocando uma mortalidade massiva de vida marinha e levantando sérias preocupações sobre os impactos ecológicos e económicos desta crise ambiental.
O fenómeno, que se estende por uma área estimada em 20 mil quilómetros quadrados, já provocou a morte de cerca de um milhão de animais marinhos pertencentes a mais de 550 espécies, incluindo peixes, moluscos, aves e mamíferos marinhos.
Investigadores da University of Technology Sydney (UTS) identificaram a causa: uma proliferação tóxica de microalgas do género Karenia, dominada pela espécie Karenia cristata, detetada pela primeira vez em águas australianas. Esta espécie produz brevetoxinas (BTX) – compostos altamente tóxicos que afetam o sistema nervoso de peixes e outros organismos marinhos, podendo também causar sintomas em humanos expostos à água contaminada ou à inalação de aerossóis marinhos.
“Esta é uma descoberta preocupante. Até agora, pensávamos que apenas a Karenia brevis, presente no Golfo do México, produzia brevetoxinas. Agora sabemos que a K. cristata também o faz – e de forma significativa”, explica a equipa científica da UTS, cujo estudo se encontra em processo de revisão científica.
Uma tempestade perfeita de fatores ambientais
Os especialistas afirmam que esta maré vermelha não surgiu do nada. Pelo contrário, é o resultado de uma combinação rara e cumulativa de condições ambientais:
- As cheias do rio Murray (2022–2023) transportaram grandes quantidades de nutrientes para o mar;
- Uma ressurgência de águas frias no verão de 2023–2024 trouxe mais nutrientes das camadas profundas para a superfície;
- Uma vaga de calor marinha desde setembro de 2024 elevou a temperatura do mar em cerca de 2,5 °C acima do normal.
Estas condições criaram um “caldo perfeito” para o florescimento de Karenia, favorecido por águas mais quentes e ricas em nutrientes – um cenário que os cientistas alertam ser cada vez mais frequente devido às alterações climáticas.
Impactos ecológicos e económicos graves
As consequências são devastadoras. As autoridades registaram um colapso em várias cadeias alimentares marinhas e grandes prejuízos nos setores da pesca, aquacultura e turismo costeiro.
“Estamos a assistir a uma catástrofe ecológica de proporções inéditas no sul do país”, descreve um biólogo marinho envolvido no estudo. “Os efeitos poderão prolongar-se durante anos, mesmo depois de a maré vermelha desaparecer.”
Risco para a saúde humana
Apesar do impacto ecológico, as autoridades de saúde da Austrália do Sul sublinham que as praias continuam seguras para uso recreativo, desde que os banhistas evitem águas com espuma ou coloração anómala, que podem causar irritações na pele e nos olhos.
Recomenda-se igualmente prudência no consumo de mariscos locais, já que as toxinas podem acumular-se nos organismos filtradores.
Um alerta global
A descoberta de Karenia cristata como uma nova produtora de brevetoxinas coloca o fenómeno num contexto global. Até agora, estas toxinas eram quase exclusivas das marés vermelhas da Flórida e do Golfo do México. A presença desta espécie tóxica na Austrália do Sul levanta a hipótese de uma expansão geográfica relacionada com as mudanças climáticas e as alterações das correntes oceânicas.
Os investigadores alertam que este episódio poderá ser um prenúncio de eventos semelhantes noutras regiões do planeta, à medida que os oceanos continuam a aquecer.
“Estamos perante um novo tipo de ameaça marinha”, concluem os cientistas. “A Karenia cristata pode tornar-se uma preocupação internacional com consequências ainda desconhecidas num oceano em rápida mudança.”
Nota:Este artigo foi elaborado com base em dados científicos e informações públicas fornecidas pela University of Technology Sydney, pelas autoridades ambientais e de saúde da Austrália do Sul e por organismos nacionais de monitorização oceânica. As conclusões e citações refletem os resultados mais recentes disponíveis até novembro de 2025, podendo ser atualizadas à medida que novas investigações forem publicadas.
Fontes
- Investigação da University of Technology Sydney (UTS) sobre a maré vermelha e identificação da Karenia cristata como espécie dominante e produtora de brevetoxinas (estudo em revisão, 2025).
- Dados ambientais e relatórios de monitorização do Departamento de Ambiente e Água do Governo da Austrália do Sul (2024–2025).
- Registos oceanográficos e análises climáticas do CSIRO e do Bureau of Meteorology, referentes à ressurgência de águas frias e à vaga de calor marinha no sul da Austrália (2023–2025).
- SA Health – orientações oficiais sobre segurança nas praias e consumo de marisco durante o bloom (2025).
- Conferência de imprensa científica da UTS com especialistas australianos e internacionais sobre a maré vermelha na Austrália do Sul (novembro de 2025).
- Relatório sobre as cheias do Rio Murray (2022–2023) e o transporte de nutrientes para o mar, publicado pelo Governo da Austrália do Sul (2023).

