Um novo estudo aponta o bambu como uma das alternativas mais promissoras aos plásticos convencionais, reacendendo a esperança de combater um dos maiores problemas ambientais do século XXI: a poluição causada pelo plástico.

Fonte: Huixin Jiao, Tingjie Zhao, Yuemei Wang, Shaoyan Zhao, Gerald A. LeBlanc, Lihui An, & Fengchang Wu
Segundo o artigo, publicado por investigadores da Universidade Agrícola de Shenyang e colaboradores internacionais, o bambu apresenta características únicas que o tornam um material natural, renovável e ambientalmente sustentável. A sua rápida taxa de crescimento, ampla distribuição geográfica e diversidade de espécies conferem-lhe um papel de destaque na transição global para uma economia mais verde.
Uma planta com potencial global
Ao contrário dos plásticos derivados de combustíveis fósseis, o bambu é um recurso que se regenera em poucos anos, sem necessidade de replantação intensiva. Estudos citados pela equipa revelam que o bambu Moso, por exemplo, pode sequestrar cerca de 5,09 toneladas de carbono por hectare por ano, superando outras florestas em termos de captura de CO₂.
Além de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, as plantações de bambu ajudam a restaurar solos degradados, melhorar a qualidade da água e oferecer habitats naturais para várias espécies — incluindo o emblemático panda-gigante.
Do campo à indústria: a revolução dos materiais de bambu
Os avanços tecnológicos dos últimos anos permitiram expandir significativamente as aplicações industriais do bambu. Os compósitos de bambu engenheirado apresentam resistências à tração até três vezes superiores às do aço, mantendo-se, no entanto, muito mais leves. Estas propriedades têm impulsionado o uso do material em tubagens, construção civil, embalagens e utensílios domésticos.
Em alguns casos, produtos feitos de bambu — como tubos ou estruturas — podem durar mais de 50 anos, segundo os autores. Essa durabilidade, aliada à estética natural e à biodegradabilidade, está a atrair cada vez mais atenção de consumidores e empresas em todo o mundo, incluindo na Europa e na América do Norte.
Benefícios culturais e económicos
O bambu ocupa também um papel cultural importante em diversas regiões do planeta. É utilizado há séculos em mobiliário, utensílios, medicina tradicional e artesanato. O crescimento da sua indústria tem criado novas oportunidades de emprego, especialmente em zonas rurais de países em desenvolvimento, fortalecendo economias locais e promovendo práticas agrícolas sustentáveis.
Desafios técnicos e económicos persistem
Apesar do seu potencial, os investigadores alertam que ainda há obstáculos a superar antes que o bambu possa substituir o plástico em larga escala. A estrutura interna complexa da planta torna o seu processamento mais difícil e dispendioso. O transporte e a colheita, sobretudo em áreas remotas, também aumentam os custos.
Atualmente, produtos descartáveis de bambu podem ser duas a três vezes mais caros do que as alternativas de plástico, o que limita a sua adoção global. Além disso, algumas aplicações enfrentam desafios de fragilidade e padronização industrial.
Um caminho sustentável, mas coletivo
O artigo recomenda maior investimento em investigação, políticas públicas de apoio e colaboração internacional para consolidar o setor. Estudos de avaliação do ciclo de vida (LCA) são fundamentais para medir o verdadeiro impacto ambiental dos produtos de bambu, incluindo emissões de carbono, consumo de água e descarte após o uso.
A criação de normas globais de fabrico e qualidade é vista como essencial para garantir a competitividade do bambu no mercado internacional.
Com a implementação da Iniciativa “Bamboo as a Substitute for Plastic” (BASP) — promovida pelo governo chinês e pela Rede Internacional de Bambu e Rattan —, o movimento em direção a soluções naturais e circulares está a ganhar força.
“O bambu não é apenas um material ecológico — é um símbolo de como a natureza pode inspirar a inovação sustentável”, concluem os autores.
Fonte: Huixin Jiao, Tingjie Zhao, Yuemei Wang, Shaoyan Zhao, Gerald A. LeBlanc, Lihui An & Fengchang Wu (Biochar Editorial Office, Universidade Agrícola de Shenyang).


