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Oceanos do Nordeste do Pacífico estão a acidificar mais depressa do que a atmosfera, alertam cientistas

Um novo estudo liderado pela Universidade de Washington revela que as águas que banham a costa oeste da América do Norte estão a tornar-se rapidamente mais ácidas — a um ritmo superior ao aumento de dióxido de carbono (CO₂) na própria atmosfera. A tendência, explicam os investigadores, poderá tornar estas águas hostis para organismos marinhos essenciais, com impactos profundos nos ecossistemas e nas comunidades humanas que deles dependem.

Os oceanos são hoje cerca de 30% mais ácidos do que eram no início da Revolução Industrial. Esta acidificação resulta da absorção de CO₂, que ao dissolver-se na água forma ácidos que diminuem o pH e reduzem a disponibilidade de minerais usados por corais, moluscos e outros organismos calcificadores para construir conchas e esqueletos.

A região do Nordeste do Pacífico, que inclui o sistema da Corrente da Califórnia, é naturalmente mais ácida do que outras zonas oceânicas devido a intensos fenómenos de upwelling — processos que trazem águas profundas, frias e ricas em CO₂ para a superfície. Este contexto sempre lançou dúvidas sobre quão vulnerável seria a região ao impacto adicional das emissões humanas.

Corais revelam um século de mudanças

Para responder a esta questão, os cientistas recorreram a um arquivo natural improvável: os corais-taça (orange cup corals), pequenas espécies coloridas que criam esqueletos capazes de registar a composição química da água em que crescem.

A equipa analisou 54 exemplares recolhidos entre 1888 e 1932 em locais como o mar de Salish, entre o estado de Washington e o Canadá. Com base em registos manuscritos de expedições científicas da época, os investigadores regressaram, mais de um século depois, aos mesmos pontos para recolher corais modernos.

A comparação de boratos — formas químicas do boro que variam consoante o nível de acidez — permitiu traçar a evolução do pH das águas ao longo de mais de 130 anos. O resultado surpreendeu a equipa: entre 1888 e 2020, o aumento de CO₂ dissolvido no Pacífico Nordeste superou o ritmo de acumulação de gases com efeito de estufa na atmosfera, revelando um fenómeno de amplificação.

“A água já começava com uma acidez elevada, o que a torna muito mais sensível a qualquer acréscimo de CO₂ proveniente das atividades humanas”, explicou o autor sénior Alex Gagnon, professor de oceanografia. “Mostrámos que esta região está a acidificar mais depressa do que se pensava.”

O efeito é ainda mais acentuado a 100 a 200 metros de profundidade, onde a acidificação foi maior do que à superfície — uma descoberta que desafia a perceção comum de que o fenómeno se limita às camadas mais superficiais do oceano.

Impactos ecológicos e sociais

A intensificação da acidificação ameaça espécies fundamentais para a cadeia alimentar e para atividades económicas costeiras. No mar de Salish, particularmente rico em biodiversidade e fundamental para culturas indígenas e sectores como a pesca e a aquacultura, as implicações são profundas.

“As mudanças na química do oceano foram realmente dramáticas”, declarou a investigadora principal Mary Margaret Stoll. “Esta região encontra-se na linha da frente dos impactos da acidificação e pode servir como um aviso para o que o resto do oceano enfrentará nas próximas décadas.”

Ainda é possível travar o pior cenário

Apesar do diagnóstico preocupante, os cientistas sublinham que o futuro ainda pode ser alterado.
“Não é tempo para niilismo. O oceano não está destruído”, afirmou Gagnon. “Como grandes emissores per capita, temos o poder de mudar as nossas emissões e influenciar o destino dos oceanos.”

O estudo, publicado a 13 de novembro na revista Nature Communications, reforça a necessidade de reduções rápidas e substanciais de CO₂, bem como de monitorização contínua de regiões onde a acidificação está a avançar mais depressa.

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