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A densidade da água é a chave para uma extração sustentável de lítio

Investigação liderada pela Universidade de Massachusetts Amherst (UMass Amherst) mostra que nem toda a água é igual quando falamos em mineração sustentável de lítio. O estudo, publicado recentemente, pode mudar a forma como encaramos a transição para uma economia de baixo carbono.

O lítio e a transição energética

O lítio é um elemento essencial para a produção de baterias recarregáveis, que alimentam desde telemóveis a veículos elétricos e, cada vez mais, sistemas de armazenamento de energia renovável. No entanto, a sua extração levanta sérios desafios ambientais, sobretudo nas regiões onde ocorre de forma natural em maior abundância: os chamados salares do Altiplano, na América do Sul.

Salares: planícies de sal formadas em antigas bacias lacustres. Contêm diferentes tipos de água subterrânea:

  • Água doce: potável, utilizada por comunidades e ecossistemas.
  • Água salobra: intermédia em salinidade.
  • Salmoura (ou “brine”): água extremamente salgada, até 200 vezes mais salgada do que a água do mar, onde se encontra o lítio.

É no chamado “Triângulo do Lítio” (entre Chile, Argentina e Bolívia) que se encontram mais de metade das reservas conhecidas deste recurso.

O problema da água

Durante anos, o debate foi polarizado entre duas visões:

  1. Ambientalistas e comunidades locais argumentam que todo o tipo de água está interligado. Retirar salmouras em grandes quantidades equivale a retirar “água” e, portanto, ameaça diretamente os ecossistemas e as populações.
  2. Empresas mineiras defendem que a salmoura não tem valor ecológico nem humano, porque é demasiado salgada para sustentar vida. Assim, apenas a extração de água doce deveria ser motivo de preocupação.

A equipa da UMass Amherst quis testar cientificamente estas posições.

O que descobriram os investigadores

Através de simulações hidrogeológicas complexas que projetam cenários para os próximos 200 anos — e confirmando os resultados com imagens de satélite de dois grandes salares —, os cientistas chegaram a duas conclusões fundamentais:

  1. A localização da extração importa.
    Quanto mais próximo da zona de água doce se bombear, maior será o impacto nos pântanos e lagoas que dependem dessa água. Os efeitos são visíveis na retração das margens e na degradação dos ecossistemas.
  2. A densidade da água faz toda a diferença.
    A salmoura, por ser mais densa, ocupa menos volume no aquífero (o reservatório subterrâneo). Assim, ao bombear salmouras, a descida do nível da água é menos acentuada.
    Pelo contrário, retirar água doce — menos densa — provoca quedas maiores no nível da água e danos rápidos nos ecossistemas.

Densidade da água: é a relação entre massa e volume. A água doce tem menor densidade do que a água salgada. Isso significa que, litro por litro, a água doce “ocupa mais espaço”. Logo, quando é retirada, o impacto no aquífero é mais drástico.

O impacto para o futuro da mineração de lítio

Segundo os investigadores, o foco não deve estar tanto na extração de salmouras, mas sim na utilização de água doce — seja para a agricultura, para outras atividades mineiras ou para novas técnicas de extração de lítio, como a DLE (Direct Lithium Extraction).

DLE: método de “extração direta de lítio”. Ao contrário da técnica tradicional, que evapora a salmoura em grandes tanques, este processo preserva a salmoura mas pode consumir até 200% mais água doce.

O estudo alerta para a necessidade de rever as práticas de mineração e a regulamentação ambiental. “Não precisamos de nos preocupar tanto com o bombeamento de salmouras, mas temos de ser extremamente cuidadosos com qualquer utilização de água doce”, afirma David Boutt, professor na UMass Amherst e coautor do estudo.

Se a transição energética depende do lítio, também terá de depender de uma gestão hídrica rigorosa. Sem isso, a busca por um futuro de baixo carbono pode acabar por pôr em risco os próprios ecossistemas e comunidades que queremos proteger.

Estudo aqui

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