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A panela já está a ferver para 2% dos anfíbios do mundo

Graças a um novo estudo efetuado por investigadores da UNSW, os cientistas poderão identificar melhor as espécies de anfíbios e os habitats que serão mais afetados pelas alterações climáticas.

Os anfíbios são os vertebrados mais ameaçados do mundo, com mais de 40% das espécies classificadas como ameaçadas – e a perda de populações inteiras pode ter efeitos catastróficos.

Sendo ectotérmicos – regulam o calor do seu corpo através de fontes externas – por isso são particularmente vulneráveis às alterações de temperatura nos seus habitats.

Apesar disso, a sua resiliência ao aumento das temperaturas tem sido mal compreendida, com dados limitados para os cientistas se basearem.

Mas agora, os investigadores da UNSW descobriram como prever a tolerância ao calor de 60% das espécies de anfíbios do mundo – e partilharam as suas descobertas num estudo publicado hoje na Nature.

Quantificar a resistência da biodiversidade a um clima em mudança é um dos desafios mais prementes da ciência contemporânea, afirma o Patrice Pottier, investigador de pós-doutoramento da UNSW e principal autor do artigo.

“Queríamos compreender melhor o risco que as alterações climáticas representam para os anfíbios e, por isso, elaborámos a compilação mais exaustiva dos limites de tolerância ao calor até à data”, afirma.

“Os limites de tolerância ao calor são a temperatura máxima que os anfíbios podem tolerar antes de os seus sistemas fisiológicos falharem”, explica.

Os cientistas utilizaram 2661 estimativas de limites de tolerância ao calor de 524 espécies para gerar dados para 5203 espécies através da imputação de dados – um método estatístico que preenche a informação em falta utilizando padrões de dados existentes.

“Neste caso, como não dispomos de dados, analisamos a forma como a tolerância ao calor está associada a factores como o tipo de habitat, a temperatura ambiental e a história evolutiva”, explica Pottier.

Uma nova abordagem para estimar a vulnerabilidade

Para avaliar a vulnerabilidade dos anfíbios ao aquecimento climático, os investigadores começaram por estimar as temperaturas corporais que estes experimentariam em diferentes microhabitats – terrestres, arbóreos e aquáticos.

“Assumimos o melhor cenário possível, em que os anfíbios se mantêm à sombra e mantêm a pele húmida, o que os pode ajudar a sobreviver ao calor extremo”.

Uma vez que os fenómenos extremos de calor são a maior ameaça à sobrevivência, os investigadores analisaram os padrões diários de temperatura ao longo da última década para ver com que frequência os anfíbios podem enfrentar temperaturas perigosamente elevadas.

Por fim, compararam essas temperaturas com os limites de tolerância ao calor conhecidos dos anfíbios e projetaram a frequência com que esses limites poderiam ser ultrapassados em diferentes cenários de aquecimento global (atual, +2°C, +4°C) em toda a sua área geográfica.

Conclusões do estudo

“Descobrimos que 104 das 5203 espécies – 2% – já estão expostas ao sobreaquecimento em condições terrestres de sombra. E um aumento da temperatura global de 4°C poderia levar 7,5% das espécies a ultrapassar os seus limites fisiológicos”.

O estudo põe em causa a visão das zonas de maior risco, que anteriormente se baseava frequentemente num gradiente geral de latitude para avaliar o risco de sobreaquecimento.

“Anteriormente, partia-se do princípio de que as espécies mais próximas do equador corriam maior risco de sobreaquecimento devido às alterações climáticas do que as das regiões temperadas.No entanto, o nosso estudo concluiu que as espécies tropicais do hemisfério sul são as mais afetadas pelos fenómenos de sobreaquecimento, enquanto as espécies não tropicais são mais afetadas no hemisfério norte”.

Para a investigadora assumir que todas as espécies tropicais são mais vulneráveis do que as espécies temperadas pode ser enganador. O que importa é avaliar se a área vai registar fenómenos de calor extremo em relação à tolerância ao calor da espécie. Para tal, é necessário afastar-se das tendências gerais e identificar áreas e espécies específicas em risco”.

O mapeamento das flutuações diárias de temperatura em todas as regiões dá uma imagem muito mais clara de como os anfíbios serão afetados por temperaturas mais elevadas e destaca os impactos crescentes do aquecimento climático.

“Os impactos aumentam em diferentes cenários de aquecimento climático. Há um aumento do impacto entre o clima atual e +2C de aquecimento; mas aumentam desproporcionadamente sob +4C de aquecimento. Esta mudança radical na gravidade do impacto mostra que ultrapassar os +2C de aquecimento global pode ser um ponto de viragem em que poderemos assistir a muitas extinções locais”, realça a investigadora.

As extinções locais podem ter repercussões ecológicas, como a alteração da composição das comunidades, a erosão da diversidade genética e o impacto na cadeia alimentar e na saúde do ecossistema.

“Algumas populações de anfíbios podem mudar de área de distribuição para habitats mais hospitaleiros, mas as oportunidades para tal são provavelmente limitadas devido às baixas taxas de dispersão e à dependência de massas de água”.

Os anfíbios são uma parte importante do ecossistema. Por exemplo, a perda de uma população de anfíbios conduziria provavelmente a um aumento da população de insetos, com efeitos secundários nas plantas e nos animais. Os anfíbios são presas de muitos animais e a sua perda teria efeitos em cadeia em muitas outras espécies. “Além dos impactos nos ecossistemas, os anfíbios estão profundamente enraizados nas culturas humanas e seria uma pena perder espécies tão belas e emblemáticas”.

Próximos passos

A seleção de micro-habitat é importante para os anfíbios, uma vez que algumas espécies vivem principalmente no solo, na vegetação ou na água, e outras podem deslocar-se entre esses diferentes habitats.

As previsões específicas de habitat do estudo oferecem prioridades de gestão claras para os gestores de conservação.

“As nossas análises tornaram claro que a vegetação e as massas de água são fundamentais para proteger os anfíbios durante as vagas de calor”, afirma Pottier.

“Descobrimos que, se fornecermos aos anfíbios água e sombra suficientes, muitos deles podem sobreviver a fenómenos de calor extremo. Temos de proteger e restaurar os ambientes que lhes permitem regular a sua temperatura corporal”, continua.

A cientista refere que neste estudo, utilizaram estimativas muito conservadoras, pressupondo o acesso a ambientes com sombras frescas. “Por conseguinte, os impactos do aquecimento global irão provavelmente exceder as nossas projecções. Por isso, é necessário envidar todos os esforços para limitar o aquecimento global para proteger os anfíbios do mundo.”

Estudo completo aqui

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