Durante décadas, os cientistas acreditaram que os dois hemisférios da Terra – norte e sul – refletiam quase a mesma quantidade de luz solar para o espaço. Essa “simetria de brilho” era vista como algo fundamental para o equilíbrio climático do planeta. Mas novos dados de satélite revelam que essa balança natural está a inclinar-se.
Um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences mostra que o Hemisfério Norte está a escurecer mais depressa do que o Sul, ou seja, está a absorver mais energia do Sol.
O que está a acontecer?
Entre 2001 e 2024, os satélites registaram que o Hemisfério Norte absorveu, em média, mais 0,34 watts por metro quadrado a cada década em comparação com o Sul. Pode parecer pouco, mas ao longo de todo o planeta corresponde a uma enorme quantidade de energia extra.
As razões para isto são várias:
- Menos poluição no Norte: a redução de partículas poluentes na Europa, nos Estados Unidos e na China diminuiu o efeito de “espelho” que antes refletia parte da luz solar.
- Menos gelo e neve no Ártico: à medida que o gelo derrete, a superfície escura da água e da terra exposta absorve mais radiação.
- Mais vapor de água: a atmosfera do Hemisfério Norte está a reter mais humidade, que contribui para o efeito de aquecimento.
- Nuvens que já não compensam: embora as nuvens sejam um fator chave no equilíbrio da radiação, não estão a conseguir “corrigir” esta diferença entre os hemisférios.
Porque é que isto importa?
O equilíbrio da radiação entre os hemisférios influencia diretamente a circulação do ar e dos oceanos. Se um lado do planeta absorve mais energia, isso pode deslocar zonas de chuva, alterar o clima tropical e até influenciar as correntes oceânicas.
Já há sinais de mudança:
- O Hemisfério Norte está a aquecer mais rapidamente do que o Sul.
- A chuva nos trópicos também está a mudar, com o Norte a ficar mais húmido e o Sul mais seco.
O que pode acontecer no futuro?
Se a tendência continuar, poderemos assistir a:
- Mudanças nos padrões de chuva, com impacto na agricultura e no abastecimento de água.
- Transformações na circulação atmosférica, que podem afetar fenómenos como as monções ou a posição da zona de tempestades das latitudes médias.
- Maior incerteza climática, pois os modelos atuais ainda não conseguem prever com precisão até onde pode chegar esta assimetria.
Conclusão
O planeta está a perder a sua simetria natural de luz e sombra. O Hemisfério Norte escurece, aquece e fica mais húmido, enquanto o Sul permanece relativamente estável. O que parecia ser uma característica fundamental do sistema climático pode afinal não ser tão estável quanto se pensava.
Os cientistas alertam: precisamos de mais observações a longo prazo para perceber se esta assimetria vai continuar a aumentar e quais serão as suas consequências para o clima global.