Investigadores da Universidade Estatal do Oregon descobrem que o superalimento é compatível com células cardíacas humanas e pode ser usado em engenharia de tecidos
As algas marinhas, conhecidas há muito pelos seus benefícios nutricionais e pelo papel essencial que desempenham nos ecossistemas marinhos, estão agora a revelar um novo potencial — desta vez no campo da biotecnologia.
Um grupo de investigadores da Universidade Estatal do Oregon, nos Estados Unidos, descobriu que determinadas espécies de algas podem ser utilizadas como andaimes naturais para o crescimento de tecidos humanos, oferecendo uma alternativa mais ecológica, económica e ética aos materiais atualmente usados na engenharia de tecidos. O estudo foi publicado na revista científica Biointerphases, editada pelo American Institute of Physics (AIP).
Uma alternativa ao uso de materiais animais
Tradicionalmente, os chamados “andaimes de tecido” — estruturas que servem de suporte ao crescimento de células em laboratório — são produzidos a partir de materiais sintéticos ou derivados de animais. Estes andaimes são essenciais para criar tecidos artificiais usados em investigação biomédica e pré-testes de fármacos.
“Em vez de recorrer a materiais de origem animal ou química, quisemos explorar o uso de substâncias naturais, facilmente disponíveis e sustentáveis”, explicou o investigador Gobinath Chithiravelu, autor principal do estudo.
A equipa utilizou uma alga vermelha do Pacífico, Palmaria Palmata conhecida como Pacific dulse, facilmente encontrada em lojas e mercados locais. Após um processo de limpeza e secagem, os investigadores removeram as células da alga, deixando apenas a sua matriz extracelular — a estrutura que mantém a forma do tecido.
Essa matriz foi depois utilizada como base para o crescimento de cardiomiócitos, as células musculares do coração humano. O resultado surpreendeu: as células aderiram bem à estrutura e desenvolveram-se de forma semelhante ao que acontece em tecidos naturais.
Compatibilidade e sustentabilidade
Para preparar o material, os cientistas recorreram a um tratamento simples com dodecil sulfato de sódio, um reagente comum em laboratórios. Este processo mostrou ser eficaz na criação de um suporte compatível e biocompatível com as células humanas.
Os resultados demonstraram que todos os andaimes à base de alga apresentaram excelente compatibilidade com os cardiomiócitos, promovendo o crescimento celular e formando redes fibrosas saudáveis.
“Porque não utilizar algas?”, questiona Chithiravelu. “São abundantes nos oceanos e, quando comparadas com materiais de origem animal ou sintética, têm um custo muito mais baixo.”
Menos testes em animais, mais sustentabilidade
Para além da redução de custos e impacto ambiental, esta descoberta pode ter implicações significativas na redução dos testes em animais durante as fases iniciais de investigação médica. As algas oferecem uma solução vegana, acessível e amiga do ambiente para criar tecidos humanos em laboratório.
O estudo reforça a importância de procurar soluções biotecnológicas sustentáveis inspiradas na natureza — e mostra que o futuro da medicina regenerativa pode estar escondido nas profundezas do oceano.


