As florestas tropicais estão a perder árvores a um ritmo crescente — e nem sempre pelas razões mais óbvias. Se até agora a desflorestação, a seca e as temperaturas elevadas eram apontadas como os principais culpados, um novo estudo dá destaque a um fator muitas vezes ignorado: as tempestades tropicais.
Segundo uma investigação liderada por Evan Gora, ecólogo florestal no Cary Institute of Ecosystem Studies, estas tempestades, conhecidas como convectivas, estão a tornar-se mais frequentes com as alterações climáticas e podem ser responsáveis por até 60% da morte de árvores nas florestas tropicais — um impacto até agora subestimado.
Ao contrário dos furacões ou ciclones, estas tempestades são rápidas mas intensas, com ventos fortes, chuvas torrenciais e relâmpagos que atingem sobretudo as árvores mais altas. Combinam violência e imprevisibilidade, e estão a deixar marcas profundas na estrutura e composição das florestas.

Evan Gora, ecologista florestal do Instituto Cary, está perto das raízes de uma árvore derrubada pelos ventos da tempestade. Crédito: Steve Yanoviak/Universidade de Louisville
“Estamos a observar mudanças significativas na dinâmica das florestas tropicais, com taxas de mortalidade de árvores em alta e alterações na composição das espécies. Isso tem implicações sérias para o armazenamento de carbono e para o equilíbrio climático global,” explicou Evan Gora.
Reanalisando dados de estudos anteriores, a equipa de Gora descobriu que as tempestades explicam os padrões de mortalidade de árvores tão bem quanto — ou até melhor do que — a temperatura e a escassez de água. Quando incluídas nos modelos climáticos, mudam completamente as conclusões sobre o que está a afetar o carbono armazenado nas florestas.
“Ficámos surpreendidos com a dimensão do impacto. As tempestades parecem ser um dos maiores fatores individuais na morte de árvores, mas têm sido praticamente ignoradas nas políticas e modelos climáticos,” sublinhou o investigador.
Parte do problema está na dificuldade em detetar e medir o impacto destas tempestades. A sua natureza localizada torna difícil o seu acompanhamento por satélite, e os investigadores no terreno nem sempre conseguem ligar uma árvore caída a um evento meteorológico específico. Para ultrapassar esse desafio, foi criado o projeto Gigante, que combina drones, sensores de relâmpagos e observação direta para monitorizar em tempo real as causas da mortalidade nas florestas.
Vanessa Rubio, ecóloga e coautora do estudo, descreve a experiência de estar no terreno durante uma tempestade tropical como intensa e reveladora: “O ambiente muda subitamente, e a força do vento e da chuva deixa claro que as árvores enfrentam perigos que muitas vezes subestimamos.”
A investigação também mostrou que as tempestades e a seca podem coexistir e afetar simultaneamente as mesmas regiões, como acontece no sul da Amazónia, onde ambos os fenómenos estão a tornar-se mais extremos.
Para os cientistas, compreender os verdadeiros motores da morte das árvores tropicais é essencial para orientar estratégias de conservação e reflorestação eficazes. Plantar ou proteger espécies mais vulneráveis ao tipo errado de ameaça pode comprometer o futuro destas florestas, e, com elas, o equilíbrio climático do planeta.
“Se queremos florestas tropicais saudáveis e resilientes nas próximas décadas, precisamos de um retrato completo e atualizado das ameaças que enfrentam,” conclui Gora.