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Avisos vocais das aves fornecem nova visão sobre a origem da linguagem

Aves separadas por vastas distâncias geográficas e milhões de anos de evolução partilham um aviso vocal aprendido notavelmente semelhante para identificar inimigos parasitas perto dos seus ninhos, revelou uma equipa internacional de investigadores.

Os resultados representam o primeiro exemplo conhecido de uma vocalização animal que é aprendida a partir de uma resposta inata partilhada entre várias espécies. O estudo, liderado por investigadores da Universidade de Cornell e da Estação Biológica de Doñana, em Sevilha, Espanha, é um dos mais abrangentes e completos realizados até à data sobre parasitismo de ninho. Os resultados serão publicados a 3 de outubro de 2025, às 5h EST, na revista Nature Ecology and Evolution.

O parasitismo de ninho ocorre quando aves, como os cucos, depositam os seus ovos nos ninhos de outras espécies, obrigando os hospedeiros a criar os seus jovens, frequentemente à custa da sua própria prole. Por isso, é vantajoso para a espécie hospedeira identificar e tentar impedir os parasitas de colocar ovos no seu ninho.

Os investigadores descobriram que mais de 20 espécies de aves, distribuídas por quatro continentes, produzem vocalizações quase idênticas, descritas como um “gemido”, quando detetam um pássaro parasita no seu território.

A equipa questionou-se sobre a razão pela qual aves de locais tão distantes como Austrália, China e Zâmbia utilizam o mesmo som para identificar parasitas, apesar de nunca se terem encontrado.

Quando uma ave ouve o aviso, instintivamente aproxima-se para investigar. É nesse momento que, segundo os investigadores, a ave começa a absorver pistas do ambiente – um processo que Damián Blasi, coautor do estudo e cientista da linguagem na Universidade Pompeu Fabra, Espanha, designa de transmissão social.

“É quando a ave absorve os sinais ao seu redor que aprende a produzir o som no futuro”, explicou James Kennerley, coautor do estudo e investigador pós-doutorado no Cornell Lab of Ornithology.

“O fascinante deste chamado é que representa um ponto intermédio entre vocalizações instintivas, comuns em animais, e unidades vocais totalmente aprendidas, como as palavras humanas”, acrescentou William Feeney, ecologista evolutivo na Estação Biológica de Doñana e co-líder do estudo.

O estudo revelou também que as espécies que produzem este gemido tendem a viver em áreas com complexas redes de interação entre parasitas de ninho e os seus hospedeiros.

“Com as aves a trabalharem em conjunto para afastar os parasitas, comunicar como e quando cooperar é realmente importante, pelo que este chamado surge nas regiões do mundo onde as espécies mais sofrem com o parasitismo de ninho”, explicou Kennerley.

O resultado, acrescentou, “é que a evolução desta vocalização está a influenciar os padrões de comportamento cooperativo entre aves em todo o mundo.”

A ligação entre o gemido inato e a resposta aprendida pelas aves é o que torna este estudo único, referem os autores.

“Pela primeira vez, documentámos uma vocalização que possui componentes tanto aprendidos como inatos, mostrando potencialmente como sinais aprendidos podem ter evoluído a partir de chamados inatos, tal como Charles Darwin sugeriu”, afirmou Feeney. “É como ver como a evolução permite às espécies atribuir significados aprendidos a sons.”

Estas descobertas desafiam pressupostos antigos sobre a divisão entre os sistemas de comunicação animal e a linguagem humana. Os autores sugerem que sistemas de comunicação aprendidos, como a linguagem humana, poderão ter evoluído através da integração gradual de elementos instintivos e aprendidos.

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