Mais de meio século depois de centenas de milhares de barris de resíduos industriais terem sido despejados ao largo da costa de Los Angeles, cientistas descobriram que estes depósitos estão a dar origem a ecossistemas únicos, dominados por microrganismos que prosperam em condições altamente alcalinas.
A investigação, publicada na revista PNAS Nexus, foi conduzida por uma equipa liderada por Paul R. Jensen. Recorreu-se a um veículo operado remotamente para mergulhar até cerca de 900 metros de profundidade na Bacia de San Pedro, onde se encontram os barris enferrujados.

Amostragem de pushcore do halo branco próximo a um barril usando o braço manipulador do ROV. Crédito: Schmidt Ocean Institute
Estudos anteriores tinham levantado a hipótese de que estes contentores continham o pesticida DDT – proibido na agricultura desde 1972 devido à sua elevada toxicidade – ou até mesmo resíduos radioativos de baixo nível. Ao redor de muitos barris foram identificadas crostas de aspeto cimentício e curiosos “halos” brancos no fundo marinho.
As novas análises mostram que essas crostas resultam de precipitação de hidróxido de magnésio, enquanto os halos se devem à formação de carbonato de cálcio – ambos subprodutos de fugas de resíduos fortemente alcalinos. Curiosamente, os sedimentos apresentaram concentrações elevadas de DDT, mas sem relação direta com os barris em si, o que sugere outras formas de despejo a granel realizadas na mesma época.
A equipa verificou ainda que as comunidades microbianas presentes nestas zonas eram de baixa diversidade, mas compostas sobretudo por bactérias alcalófilas – microrganismos adaptados a ambientes extremos semelhantes aos encontrados em fontes hidrotermais.
De acordo com os autores, os impactos ecológicos deste despejo industrial caótico poderão persistir durante milhares de anos, alterando de forma duradoura a ecologia do fundo marinho ao largo da Califórnia.

Crédito: Schmidt Ocean Institute


