O Brasil acolhe a partir de hoje cerca de 60 líderes mundiais para uma cimeira que quer ser o alicerce de uma COP30 “da implementação”, mas com um enorme elefante na sala, a exploração de petróleo na Amazónia.
A cidade amazónica de Belém, fundada pelos portugueses a 12 de janeiro de 1616, reunirá entre hoje e sexta-feira delegações de 143 países, das quais pouco mais de um terço serão chefiadas pelos respetivos líderes nacionais, com a ausência confirmada dos três líderes dos países mais poluidores do mundo (China, Estados Unidos e Índia).
Entre os líderes que confirmaram publicamente a presença estão o Presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro português, Luís Montenegro. De outras nações lusófonas, está confirmada a participação e discursos do Presidente moçambicano, Daniel Chapo, do ministro da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde, Alexandre Monteiro, e do representante angolano.
“O mundo precisa, coletivamente, de conseguir reverter essa tendência de aumento da temperatura, quando temos todo esse manancial de regras, normas, ferramentas e mecanismos para ajudar os países a reduzirem emissões e a se adaptarem à mudança do clima. É o momento de elevar o tema”, frisou, em comunicado, a negociadora do Brasil na COP30, Liliam Chagas.
Convocada pelo Presidente brasileiro, Lula da Silva, o encontro é visto pela diplomacia brasileira como um marco central no processo de mobilização e diálogo internacional sobre a agenda climática, antecedendo a 30.ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre o Clima, de 10 a 21 de novembro, também em Belém.
Para além dos discursos das delegações na sessão plenária e das mesas temáticas, Lula da Silva vai lançar ainda oficialmente o Fundo de Florestas Tropicais, um fundo global para a proteção das florestas tropicais, com o qual pretende pôr fim ao conceito de “doação” e promover investimentos e financiamentos.
O objetivo é que este fundo de investimento reúna 125 mil milhões de dólares e depois gere rendimentos a serem distribuídos entre as nações tropicais. O Governo de Lula já anunciou que destinará mil milhões de dólares e espera que outros países revelem as suas contribuições durante a conferência.
O Brasil olha ainda para a COP30 como um momento de pôr em prática os compromissos assumidos desde a assinatura do Acordo de Paris, há dez anos.
Na terça-feira, o chefe de Estado brasileiro, numa entrevista com seis agências internacionais, questionado pela agência Lusa, frisou que os líderes mundiais devem passar a mensagem “para o mundo inteiro” de que querem resolver os problemas do clima.
Ainda assim, o sétimo maior produtor de petróleo acabou por colocar nas últimas semanas um tema no centro das discussões sobre a Amazónia: a prospeção de petróleo por parte da Petrobras perto da foz do rio Amazonas.
O Governo brasileiro pretende apresentar-se em Belém como um líder da agenda climática, graças ao combate à desflorestação na Amazónia, mas várias organizações não-governamentais têm criticado a aposta contínua na extração de petróleo numa zona tão sensível como a costa amazónica e apresentaram uma ação na Justiça brasileira para anular a licença de pesquisa de petróleo à Petrobras numa área próxima à foz do rio Amazonas.
Na mesma entrevista de terça-feira, questionado pela Lusa, Lula da Silva disse que seria incoerente da sua da parte impedir a prospeção de petróleo perto da Foz do Amazonas. “Eu acabo o petróleo e vou utilizar o quê? Eu tenho responsabilidade. Então, como chefe de Estado, eu tenho de ter responsabilidade”, disse, acrescentando que se fosse” um líder falso e mentiroso” esperaria terminar a COP30 (que decorre entre 10 e 21 de novembro em Belém) para dar o aval à prospeção de petróleo.
LUSA


