Um estudo, publicado na Mammalian Biology , descobriu que os filhotes da baleia franca austral, às vezes amamentam-se, ou melhor dizendo, roubam leite de baleias que não são as suas mães biológicas
Esta é a conclusão a que chegaram Kate Sprogis, do Instituto de Oceanos e Escola de Ciências Biológicas da UWA e Frederik Christiansen, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, ambos co-autores deste estudo.
“A alosamamentação — quando um bebé mama noutra mãe, que não é a sua progenitora biológica, foi observada em focas e mamíferos terrestres, incluindo veados, renas e girafas, mas não tinha sido quantificado ainda em baleias grandes “, afirma a investigadora-adjunta Kate Sprogis, adiantando que o comportamento que observaram na costa sul da Austrália pareceu ser um movimento direto e intencional do cachalote, porém a mãe lactante não biológica foi evasiva.”

As baleias são animais mamíferos e o aleitamento materno tem benefícios para as crias, por isso ao mamarem noutra baleia que não a mãe ganham leite extra ajudando-os assim a crescer em tamanho e força, mas pode ser desvantajoso para a mãe não biológica, pois esta precisa de fornecer alimento à sua própria prole. Outro fator importante de salientar é que “as baleias têm uma estratégia de reprodução própria, por isso durante a temporada de amamentação não se alimentam, pelo que não conseguem repor as reservas de energia perdidas”, explica Kate Sprogis. Depois, no final da temporada de amamentação precisam de migrar, ou seja, têm de regressar para as suas áreas de alimentação.
“Para as baleias francas do sul , é uma longa migração. Vão da Austrália até às ilhas subantárticas ou para a Antártida, onde se vão reabastecer alimentando-se de pequenos invertebrados”, explica. As fêmeas dão à luz a cada três ou cinco anos e têm um período de gestação de um ano. Os filhotes tendem a ficar com as mães até um ano após o nascimento, mas quando nascem são pequenos e inofensivos. Uma curiosidade, a amamentação é realizada muito próxima da superfície para facilitar que estes subam para respirar. Possuem dois mamilos apenas, mas as suas glândulas mamárias ficam dentro de fendas e a partir de contrações o leite é jorrado para a água após serem estimuladas por pequenos toques dados pelos filhotes. Esse leite possui uma taxa de gordura na ordem dos 40%, por isso não se dissolve na água, pelo contrário forma uma espécie de placas que são ingeridas pelos bebés, que mamam de duas a três vezes por hora, inclusive à noite.
Esta pesquisa para entender o comportamento das baleias francas austrais é importante, pois esses mamíferos estão ameaçados de extinção segundo dados do Australian Environment Protection and Biodiversity Conservation Act. Há uma série de ameaças — até à década de 1960 eram caçadas pela indústria baleeira, findo este flagelo a população recuperou ligeiramente, mas há outros contratempos, caso de ficar presas em redes de pesca, colisões com embarcações, degradação do seu habitar e mudanças climáticas. Kate Sprogis disse também ser possível que a alosamação tenha ocorrido em outras espécies de baleias, como por exemplo, a baleia franca do Atlântico Norte, igualmente ameaçada de extinção.


