31% dos produtos vendidos como “tubarão” no mercado norte-americano provêm de espécies ameaçadas de extinção
Um estudo publicado na revista científica Frontiers in Marine Science revelou que carne de tubarões em risco de extinção continua a ser vendida nos Estados Unidos, muitas vezes de forma enganosa. De acordo com a investigação, 31% das amostras analisadas correspondiam a espécies ameaçadas ou em perigo crítico, mas eram comercializadas sob rótulos genéricos como “tubarão”.
“Encontrámos tubarões criticamente ameaçados, incluindo o tubarão-martelo-gigante e o tubarão-martelo-comum, à venda em supermercados, mercados de peixe e também online”, explicou em comunicado a investigadora Savannah J. Ryburn, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, que coordenou o estudo.

Fonte: https://www.frontiersin.org/journals/marine-science/articles/10.3389/fmars.2025.1604454/full
O estudo
A investigação decorreu entre 2021 e 2022 no âmbito de um curso universitário sobre “forense alimentar”. Foram adquiridos 30 produtos de tubarão – 19 bifes frescos e 11 embalagens de carne seca – em lojas e na internet nos estados de Washington DC, Carolina do Norte, Flórida e Geórgia.
Através de técnicas de análise genética (DNA barcoding), os investigadores identificaram as espécies presentes e compararam-nas com as designações de venda. Das 30 amostras, 29 foram identificadas ao nível da espécie. Apenas uma estava corretamente rotulada: tubarão-galha-preta (Carcharhinus limbatus), considerado vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Em contrapartida, um produto rotulado como tubarão-galha-preta revelou ser, na verdade, tubarão-mako-do-curto-focinho (Isurus oxyrinchus), classificado como em perigo.

O número de cada espécie encontrada na nossa análise usando código de barras de DNA para identificar produtos rotulados como tubarão. As espécies são codificadas por cores para representar o status da IUCN. A figura inclui todas as amostras identificadas ( n = 29) e apenas a identidade de cada amostra dos resultados do código de barras de DN. Fonte: https://www.frontiersin.org/journals/marine-science/articles/10.3389/fmars.2025.1604454/full
Espécies em risco nos pratos
No total, 31% das amostras correspondiam a espécies em perigo ou em perigo crítico, como o tubarão-martelo-panã, o tubarão-martelo-comum, entre outros. Outras amostras pertenciam a espécies vulneráveis, como o tubarão-limão e o tubarão-tintureira, ou quase ameaçadas, como o tubarão-anjo-do-Pacífico. Apenas uma amostra provinha de uma espécie considerada de “menor preocupação”: o tubarão-pontiagudo-do-Atlântico.
Os preços encontrados variaram entre 6,56 e 11,99 dólares por quilo para carne fresca e, em média, 207,37 dólares por quilo para carne seca.
Riscos para a saúde humana
Além das consequências ambientais, os investigadores alertam para riscos para a saúde pública. Três das espécies identificadas – tubarão-martelo-comum, tubarão-martelo-gigante e tubarão-liso-acinzentado – apresentam níveis elevados de mercúrio, metilmercúrio e arsénio, substâncias tóxicas associadas a danos neurológicos, atraso no desenvolvimento cognitivo e até morte fetal.
O que fazer?
Segundo Ryburn, “os vendedores nos Estados Unidos deveriam ser obrigados a indicar nomes específicos das espécies” para garantir transparência e proteger os consumidores. A investigadora recomenda ainda que, em contextos onde o consumo de carne de tubarão não seja uma necessidade alimentar, os consumidores evitem comprar produtos sem rotulagem clara ou sem origem rastreável.