Um novo projeto do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) utiliza a interação com cavalos para zelar pela saúde mental e bem-estar dos estudantes, ajudando a que estes consigam gerir melhor os desafios do dia-a-dia
Intitulado “Horse Buddy” (no original em inglês, cavalo amigo em português), as sessões práticas decorrerão ao longo de pouco mais de três meses, entre fevereiro e maio de 2025, e o programa “pretende demonstrar como a interação com cavalos – seja a montar, a passear ou a cuidar destes animais – pode ajudar os estudantes a melhor gerirem o stress e os desafios da vida académica”, informou fonte do IPC.
“O cavalo tem determinadas características do seu comportamento, é um animal inteligente, facilmente cria empatia, mesmo com situações de fragilidade humana. Mas também é um animal que impõe limites, é um animal assertivo, e isso também é bom, é importante o desenvolvimento de uma relação com essas características com o estudante”, disse à agência Lusa Ana Paula Amaral, professora do IPC e uma das responsáveis do projeto.
Psicóloga clínica de formação e investigadora na área da saúde mental, Ana Paula Amaral notou que, atualmente, os jovens apresentam mais dificuldades de interação social e de relação emocional, o que resulta em piores índices de saúde mental.
“Isso prende-se com o uso excessivo da tecnologia e quando as coisas são abusivas e causam dependência, acabam por ter repercussões negativas. Por outro lado, alguns destes jovens ainda têm algum impacto do confinamento associado à pandemia de covid-19, que vivenciaram em idades críticas do seu desenvolvimento”, acrescentou, situações que o “Horse Buddy” pretende contrariar, gerando emoções positivas.
Para além do desenvolvimento de competências emocionais, o programa visa o desenvolvimento de competências cognitivas e relacionais: “o aluno vai ter de aprender a tomar decisões, tem de saber ser assertivo, estabelecer limites e respeitar os limites do cavalo”, vincou Ana Paula Amaral.
Sendo um animal sensível e empático, a investigadora não deixa de considerar a relação com o cavalo como um desafio
“Não é um cachorrinho ou um gatinho, é um animal que constitui um desafio relacional e isso também é positivo. Vai permitir o próprio autoconhecimento e melhorar a autoestima do estudante, que, à medida que vai cultivando essa relação, vai-se sentir também mais confiante nele próprio. Há aqui toda uma dinâmica muito enriquecedora, que esperamos que possa contribuir para promover o sucesso académico, porque todas estas coisas estão relacionadas”, observou a professora do IPC.
Embora o universo de potenciais inscritos no projeto ultrapasse os 10 mil alunos – oriundos de todas as seis escolas superiores do Politécnico de Coimbra – a participação no “Horse Buddy” estará limitada a 40 estudantes, ao longo de pouco mais de três meses, entre 03 de fevereiro e 16 de maio.
Os participantes serão divididos em dois turnos com um máximo de 20 alunos cada e terão sessões práticas na Escola Superior Agrária duas vezes por semana (uma hora e meia por sessão), com cada dois alunos a interagir com um cavalo. “Não são aulas de equitação. São várias atividades que envolvem este cuidar e esta relação com o cavalo. Tem de ser um pequeno número de estudantes, senão perde-se a essência do programa”, afirmou Ana Paula Amaral.
Adiantou que quem se inscreve “é porque já tem alguma apetência, vontade de o fazer e uma sensibilidade acrescida na relação com os cavalos”.
“Quem não gosta ou quem tem medo não se vai inscrever e acaba por existir uma seleção natural”, disse a professora do IPC. O projeto de promoção de saúde mental e bem-estar com atividades assistidas por equinos em curso no Politécnico de Coimbra insere-se num programa mais vasto, intitulado +SABE, que tem como objetivo a promoção da saúde mental no ensino superior.
Este artigo foi escrito por LUSA