Uma análise efectuada por um perito da Rutgers Health mostra que, apesar de décadas de esforços bem sucedidos para reduzir a exposição a este metal tóxico, a verdade é que continua a representar um perigo nos produtos de consumo em quatro estados dos EUA
“Os produtos de consumo foram consistentemente identificados como uma das principais fontes de exposição ao chumbo — e a única identificada em 15% a 38% dos casos — em investigações de crianças com níveis elevados deste metal no sangue. Estes dados foram encontrados nos estados de Nova Iorque, Califórnia, Oregan e Washington”, afirmou Adrienne Ettinger, professora adjunta da Rutgers School of Public Health e autora convidada na Environmental Health Perspectives.
Adrieene Ettinger, antiga chefe da Divisão de Prevenção do Envenenamento por Chumbo e Acompanhamento da Saúde Ambiental nos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA e atual chefe de recursos humanos para a investigação na Rutgers Health efetuou um estudo sobre o chumbo em produtos de consumo naquelas quatro estados, que teve como coautora Paromita Hore, licenciada pela Rutgers. Esta investigação foi ainda apoiada pela Pure Earth e pelos departamentos de saúde locais e estatais dos quatro estados.

O chumbo encontra-se em produtos de consumo que vão desde alimentos e especiarias importados a cosméticos, brinquedos e até materiais de decoração de bolos. Este aparece em tantos locais por ser durável, versátil e facilmente encontrado no ambiente. Infelizmente, é também uma potente neurotoxina, sobretudo para as crianças. Mesmo uma exposição mínima pode prejudicar o desenvolvimento neurológico e causar problemas de saúde duradouros que vão desde dores de cabeça e abdominais, passando pela perda de infertilidade e até causando danos cerebrais. Pelo menos 2,5 por cento das crianças têm níveis de chumbo no sangue superiores ao valor de referência do Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Apesar destes desafios, foram dados passos significativos.
“A remoção do chumbo da gasolina e da tinta foi declarada um dos maiores sucessos da saúde pública no século XX”, afirma Adrieene Ettinger. Os níveis médios de chumbo no sangue da população dos EUA diminuíram em mais de 95% de 1976 a 2016. No entanto, cerca de 800 milhões de crianças em todo o mundo ainda têm níveis superiores ao nível de preocupação da Organização Mundial de Saúde (OMS).
O panorama regulamentar nos EUA está fragmentado, com diferentes agências federais e estatais responsáveis por vários produtos e fontes de exposição. Esta abordagem desarticulada cria lacunas que os fabricantes podem explorar de forma intencional ou não intencional. Além disso, o legado da utilização histórica do chumbo continua a representar riscos, como a contaminação em instalações industriais abandonadas e em habitações urbanas envelhecidas.
Os especialistas defendem várias acções para diminuir ainda mais a exposição ao chumbo. O reforço das leis nacionais e internacionais e a sua aplicação mais rigorosa protegeriam ainda mais os consumidores. Um repositório nacional de dados para acompanhar e comunicar sistematicamente os riscos persistentes daria às pessoas mais informações para se protegerem.

“O Departamento de Saúde e Higiene Mental da cidade de Nova Iorque apelou à criação de um repositório nacional de dados sobre produtos de consumo identificados com chumbo para monitorizar sistematicamente e permitir uma melhor comunicação dos riscos persistentes ao público”, afirmou a investigadora.
O comércio global agrava a questão. Os produtos fabricados em países com regulamentação pouco rigorosa ou inexistente podem infiltrar-se nos mercados dos Estados Unidos, nomeadamente através de plataformas em linha e do transporte pessoal de mercadorias. “Esse aspeto internacional do problema ressalta a necessidade de educação e cooperação em todo o mundo”, defende.
A Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, que administra a ajuda externa não militar, apelou a um esforço mundial para erradicar o chumbo tóxico dos bens de consumo. Este e outros esforços globais podem promover uma maior regulamentação e cooperação internacional.
Os indivíduos podem tomar medidas para se protegerem a si próprios e às suas famílias, mantendo-se informados sobre potenciais fontes de chumbo. Os consumidores podem informar-se sobre as recolhas de produtos em recalls.gov, um sítio Web que agrega informações sobre recolhas de seis agências federais. A Consumer Reports , uma organização independente sem fins lucrativos que testa produtos e defende os consumidores, também testa rotineiramente a presença de chumbo nos produtos.
Os residentes de casas mais antigas, especialmente as construídas antes de 1950, devem ter cuidado durante as renovações devido à possível presença de tinta à base de chumbo. A realização de testes profissionais e a adesão a práticas de renovação seguras podem reduzir significativamente os riscos.
Embora não seja recomendável testar regularmente os níveis de chumbo no sangue para a maioria das pessoas, faz sentido para grupos de alto risco. Quem trabalha em indústrias que lidam com chumbo ou que se dedicam a passatempos que envolvem este material tóxico — como o fabrico de chumbos de pesca ou balas — devem considerar pedir aos seus médicos uma análise ao chumbo no sangue. “Assegurar que os produtos de consumo estão isentos de chumbo e mitigar as fontes históricas de chumbo provenientes da produção, fabrico e eliminação de bens de consumo são acções fundamentais para a saúde pública”, termina.


