Em fevereiro de 2023, o ciclone Gabrielle devastou a região norte da Ilha Norte da Nova Zelândia, deixando um rasto de destruição não só em comunidades humanas, mas também na infraestrutura de conservação ambiental. Um estudo recente revela que 82% dos eco-santuários da região foram afetados, obrigando a canalizar recursos para reparações em vez de progressos na proteção da biodiversidade.
Os ecossantuários — grandes projetos de restauração ecológica que funcionam como refúgios para espécies nativas ameaçadas — desempenham um papel crucial na conservação da natureza neozelandesa. No entanto, o ciclone trouxe múltiplos impactos: 91% dos santuários afetados sofreram danos causados pelo vento, 85% por erosão e 45% por inundações. Em 36% dos casos registou-se ainda deposição de sedimentos.
Um dos pontos mais preocupantes foi a destruição de cercas de exclusão de pragas, estruturas essenciais que mantêm espécies invasoras fora dos santuários. Metade dos ecossantuários com cercas danificadas registou pelo menos uma brecha, e em três dos cinco casos houve entrada imediata de predadores, colocando em risco espécies já vulneráveis.
Segundo os investigadores Warwick Allen e Sarah Richardson, do instituto Manaaki Whenua – Landcare Research, os danos não se limitaram às infraestruturas físicas. Houve também interrupções em atividades fundamentais como o controlo de pragas, monitorização de espécies nativas e programas de reflorestação, além da perda de acesso a áreas de gestão e redução da capacidade das equipas de conservação.
Apesar das dificuldades, o estudo aponta sinais de resiliência: não foram registadas extinções locais e verificou-se uma forte determinação das comunidades e organizações envolvidas em reconstruir e reforçar os projetos de conservação.
Face à previsão de um aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, os especialistas alertam para a necessidade de reforçar os recursos destinados a estes projetos e deixam recomendações práticas: elaboração de planos de resposta a desastres, remoção de árvores de grande porte junto a cercas e infraestruturas críticas, e criação de kits de resposta rápida para intervir imediatamente após eventos meteorológicos severos.
“Os eco-santuários mostraram resiliência coletiva, mas a pressão climática vai continuar a crescer. Garantir financiamento e preparação adequados será vital para a proteção dos ecossistemas indígenas e das espécies ameaçadas da Nova Zelândia”, sublinham os investigadores.