Um grupo internacional de investigadores, com participação da Universidade de Göttingen (Alemanha) e da Curtin University (Austrália), revelou a origem de uma das mais importantes jazidas de nióbio do mundo. O estudo, publicado na revista Geological Magazine, mostra que o depósito se formou há mais de 800 milhões de anos, durante a fragmentação do supercontinente Rodínia.
O nióbio é um metal raro e estratégico, essencial para a produção de aços ultrarresistentes e para tecnologias emergentes, como baterias avançadas e sistemas de supercondutividade. Atualmente, cerca de 90% da oferta mundial provém de uma única mina no Brasil. No entanto, as novas descobertas sugerem que o centro da Austrália poderá esconder um dos maiores depósitos globais deste recurso.
Viagem ao interior da Terra
A equipa estudou amostras de sondagens entre 80 e 210 metros de profundidade na Província de Aileron, uma das formações geológicas mais antigas do continente australiano. Os cientistas identificaram a presença de carbonatitos — rochas magmáticas extremamente raras, ricas em nióbio e em elementos de terras raras, ambos listados pela União Europeia como matérias-primas críticas.
Com recurso a técnicas modernas de datação, incluindo análises isotópicas de minerais como zircão e apatite, foi possível reconstruir uma história geológica complexa, marcada por mais de 500 milhões de anos de transformações. Os resultados indicam que os carbonatitos se formaram entre 830 e 820 milhões de anos atrás, quando a separação das placas continentais provocou a rutura do supercontinente Rodínia. Esse processo abriu fraturas profundas na crosta terrestre, permitindo a ascensão de magmas ricos em metais a partir do manto terrestre.
Um “tesouro” escondido
Segundo o geólogo Maximilian Dröllner, principal autor do estudo, “os carbonatitos funcionam como verdadeiros cofres naturais de metais valiosos”. Para além de concentrações significativas de nióbio, as rochas analisadas diferenciam-se de tudo o que até hoje tinha sido descrito na região australiana.
“Estes depósitos têm um enorme potencial económico. O nióbio é fundamental para fabricar aço leve e resistente, usado em aviões, oleodutos e veículos elétricos. Além disso, é cada vez mais importante para baterias de nova geração e tecnologias supercondutoras”, sublinha Dröllner.
Se confirmada a extensão do depósito, a Austrália poderá assumir um papel central na diversificação da oferta mundial de nióbio, reduzindo a dependência global de uma única fonte e reforçando a segurança no abastecimento de matérias-primas críticas para a transição energética e tecnológica.