#PorUmMundoMelhor

Rui Francisco

Como transformar a sociedade para ser mais circular

Muito se tem falado sobre circularidade, sobretudo na perspetiva de que os fornecedores devem oferecer soluções que prolonguem o ciclo de vida dos produtos que adquirimos. No entanto, quando chega o momento de comprar, continuamos a optar por produtos descartáveis, de consumo rápido e a preços quase simbólicos, entregues à nossa porta sem qualquer informação sobre o seu impacto ambiental, social ou económico.

Diz-se que “longe da vista, longe do coração”, mas será que, enquanto sociedade, somos assim tão ingénuos ao ponto de acreditar que estas escolhas não terão consequências diretas ou indiretas nas nossas vidas? Os impactos são reais e manifestam-se de várias formas: empresas locais que não crescem, empregos que desaparecem ou são de baixo rendimento e, em contextos mais extremos – como uma pandemia, uma guerra comercial ou um conflito armado – percebemos a fragilidade das nossas cadeias de abastecimento e a dependência de sistemas externos que determinam o nosso futuro.

Como podemos iniciar esta mudança?

A transformação para uma sociedade mais circular deve começar com a educação. Há inúmeros exemplos de mudanças de comportamento iniciadas nas escolas – desde hábitos de reciclagem, leitura, civismo – que as crianças levam para casa, influenciando toda a família. Campanhas de educação ambiental e cidadania circular são essenciais para explicar o que é a economia circular, e quais os fatores que devemos considerar enquanto consumidores, no momento da compra.

É igualmente importante atuar ao nível das empresas. Departamentos de compras devem incluir critérios de circularidade nos contratos com fornecedores. Devemos desenvolver e adotar sistemas de classificação ou “ratings” de circularidade, que tornem fácil para o consumidor e para o decisor empresarial identificar produtos e serviços alinhados com estes princípios.

E mais do que nunca, devemos valorizar o que é nosso, apoiar a produção local e escolher produtos de maior durabilidade. Comprar menos, mas melhor, é um princípio básico da economia circular: mais durabilidade é menos desperdício.

Critérios para um Rating de Circularidade

Uma possível abordagem para criar um sistema de avaliação da circularidade de um produto, serviço ou empresa passa pela definição de um conjunto de aspectos-chave que permitam medir, de forma objetiva e comparável, o desempenho ao longo do seu ciclo de vida. Como ponto de partida, sugerem-se 5 a 10 critérios essenciais que poderão ser considerados na construção de um rating de circularidade, ajudando a traduzir práticas circulares em indicadores práticos e acessíveis.

  1. Durabilidade do Produto – Vida útil estimada e resistência ao desgaste. 
  2. Reparabilidade – Facilidade com que o produto pode ser reparado ou mantido. 
  3. Conteúdo Reciclado – Percentagem de materiais reciclados incorporados na produção. 
  4. Capacidade de Reciclagem – Possibilidade de o produto ser reciclado no fim da sua vida útil. 
  5. Design Modular – Se o produto permite substituição de partes sem descarte total. 
  6. Pegada de Transporte – Distância média percorrida pelos componentes e produto final. 
  7. Origem Local dos Materiais – Percentagem de matérias-primas provenientes da região/local. 
  8. Sistema de Retoma ou Reutilização – Existência de modelos de recolha, retoma ou reutilização. 
  9. Eficiência de Produção – Minimização de resíduos e consumo energético durante a produção. 
  10. Transparência de Cadeia de Valor – Clareza e rastreabilidade dos fornecedores e matérias-primas. 

Nas embalagens do produto poderia estar um código QR que os consumidores poderiam utilizar no telefone móvel e classificar a compra do producto de acordo os critérios.

Criar um rating de circularidade permite que consumidores, empresas e instituições façam escolhas mais conscientes e sustentáveis, comparando diferentes opções com base no seu impacto ao longo do ciclo de vida. Tal como existem rótulos energéticos ou nutricionais, um sistema visual e simples de entender pode ajudar a transformar decisões de compra impulsivas em escolhas responsáveis, alinhadas com os princípios da economia circular.

Do consumidor à cadeia de valor

Este tipo de avaliação não beneficia apenas o consumidor final. Para as empresas, um sistema de rating de circularidade pode identificar pontos de melhoria, promover inovação no design e produção e abrir portas a novas oportunidades de mercado, incluindo acesso a financiamento verde ou certificações reconhecidas. Além disso, obriga a cadeia de valor a alinhar-se com critérios mais exigentes, promovendo parcerias locais, transparência e resiliência operacional.

Num contexto de crescente regulamentação e exigência dos stakeholders, adotar um sistema de avaliação como este não é apenas uma questão ética, mas estratégica. Empresas que investem em circularidade destacam-se pela sua capacidade de adaptação, pela redução de custos e pela valorização do seu posicionamento de marca. Um rating de circularidade robusto e confiável será, sem dúvida, uma ferramenta indispensável na transformação da economia linear em circular.

Quando veremos resultados?

Não sabemos exatamente quanto tempo demorará a mudança a fazer-se sentir. Mas uma coisa é certa: se nunca começarmos, nunca veremos resultados. A mudança começa com pequenas escolhas conscientes, todos os dias, por todos nós.

 E qual é a sua opinião?
Que medidas concretas podemos, enquanto sociedade, implementar para acelerar esta transição?
Partilhe connosco as suas ideias e sugestões através do email: info@thesustainability.network

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