“A natureza não conhece fronteiras: o que os humanos dividem, todos os outros seres vivos unem.” Esta é a filosofia de Roberto Cazzolla Gatti, professor do Departamento de Ciências Biológicas, Geológicas e Ambientais da Universidade de Bolonha. Inspirado por esta ideia simples, mas profunda, concebeu os Corredores Ecológicos de Paz: uma estratégia de conservação inovadora que pode revelar-se essencial para preservar a biodiversidade e promover a paz

Os Corredores Ecológicos de Paz oferecem uma oportunidade única para abordar tanto a resolução de conflitos como a proteção ambiental nas regiões fronteiriças
Apresentados oficialmente através de um artigo publicado na Biological Conservation, os Corredores Ecológicos de Paz oferecem uma oportunidade única para abordar tanto a resolução de conflitos como a proteção ambiental em regiões fronteiriças. Exemplos de potenciais aplicações incluem áreas que abrangem a Ucrânia, a Rússia, a Bielorrússia e a Polónia; a Palestina e Israel; a China, a Índia e o Paquistão; os Estados Unidos e o México; e o Ruanda, a Tanzânia, o Uganda e o Congo.
“Num mundo cada vez mais marcado por impactos humanos e guerras, há uma necessidade urgente de áreas protegidas e zonas livres de conflitos”, explica CazzollaGatti. “A ideia dos Corredores Ecológicos de Paz nasceu desta necessidade: são zonas designadas ao longo e através das fronteiras internacionais que ligam áreas protegidas atualmente fragmentadas, integrando os esforços de conservação com a promoção da paz e da cooperação internacional”.
Atualmente, existe uma dinâmica global para alcançar os objetivos da Iniciativa 30×30, que visa proteger 30% do planeta até 2030. No entanto, os esforços de conservação podem ser insuficientes se se concentrarem apenas em “ilhas de conservação” isoladas. Os Corredores Ecológicos de Paz podem ser fundamentais: os países vizinhos podem colaborar em iniciativas de conservação, promovendo simultaneamente a paz e minimizando as disputas por recursos ou conflitos territoriais.
“Os corredores assentam na ligação intrínseca entre o ambiente, a vida selvagem e a saúde humana”, acrescenta Cazzolla Gatti. “Demonstram que a proteção da natureza pode promover simultaneamente a biodiversidade e a coexistência pacífica entre as populações humanas e a vida selvagem. Estes corredores podem ser fundamentais para a construção da paz antes da escalada dos conflitos ou para os esforços de manutenção da paz após a resolução dos conflitos”.

Legenda: Roberto Cazzolla Gatti, professor do Departamento de Ciências Biológicas, Geológicas e Ambientais da Universidade de Bolonha, que apresentou a proposta na revista Biological Conservation. Crédito: Universidade de Bolonha
Embora não estejam explicitamente estruturados como Corredores de Paz Ecológica, existem exemplos relevantes. A Zona Desmilitarizada (DMZ) entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, por exemplo, funciona involuntariamente como uma zona tampão entre as duas nações e um hotspot de biodiversidade. Outro exemplo é o Parque Transfronteiriço do Grande Limpopo, que abrange Moçambique, África do Sul e Zimbabué, e que fez avançar significativamente os esforços de conservação de elefantes, rinocerontes e grandes predadores, enquanto promoveu a cooperação entre estas nações africanas. Por outro lado, um exemplo negativo é o muro fronteiriço entre os Estados Unidos e o México, que obstruiu o movimento de espécies como o jaguar e a jaguatirica, reduzindo a diversidade genética e ameaçando a viabilidade das suas populações.
A proposta de Corredores Ecológicos de Paz inclui uma metodologia que utiliza a inteligência artificial para identificar territórios adequados e um sistema de zonagem inspirado no utilizado nos parques nacionais italianos para equilibrar a conservação com as necessidades humanas. Nas zonas afetadas por conflitos, por exemplo, as infraestruturas militares poderiam ser desmanteladas, a vegetação restaurada e os corredores patrulhados para incentivar a biodiversidade e a paz. Esta abordagem integrada, ao criar espaços neutros, garante a segurança tanto das pessoas como da biodiversidade.
Este texto é uma parceria com o GreenOcean www.greenocean.pt


