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Cultura impulsiona uma grande transição na evolução humana, defende nova teoria

Investigadores da Universidade do Maine avançam com a hipótese de que a espécie humana poderá estar a atravessar uma mudança evolutiva de grande escala — mas desta vez não impulsionada pelos genes, e sim pela cultura.

Num artigo publicado na revista BioScience, da Universidade de Oxford, Timothy M. Waring, professor associado de Economia e Sustentabilidade, e Zachary T. Wood, investigador em Ecologia e Ciências do Ambiente, defendem que a cultura está a ultrapassar a genética como a principal força a moldar a evolução humana.

“A evolução humana parece estar a mudar de velocidade”, explica Waring. “Quando aprendemos competências, instituições ou tecnologias uns com os outros, herdamos práticas culturais adaptativas. Ao revermos as evidências, percebemos que a cultura resolve problemas de forma muito mais rápida do que a evolução genética. Isto sugere que a nossa espécie se encontra no meio de uma grande transição evolutiva.”

Cultura a superar a genética

As práticas culturais — desde métodos agrícolas a sistemas legais — propagam-se e adaptam-se a um ritmo muito superior ao da evolução biológica, permitindo aos grupos humanos responder a novos desafios de forma mais eficaz do que através de mutações genéticas.

De acordo com os investigadores, este processo tem raízes profundas no passado, está a acelerar e poderá definir o futuro da humanidade durante milénios.

“A evolução cultural engole a evolução genética ao pequeno-almoço”, afirma Wood. “Não há comparação possível.”

Na sociedade contemporânea, os sistemas culturais adaptam-se tão rapidamente que frequentemente “substituem” a adaptação genética. O uso de óculos ou cirurgias corrige problemas de visão que antes estariam sujeitos à seleção natural; tecnologias médicas, como cesarianas ou tratamentos de fertilidade, permitem a sobrevivência e reprodução em situações que outrora seriam impossíveis.

Assim, a sobrevivência humana depende cada vez menos de características genéticas individuais e mais da robustez de sistemas culturais como hospitais, escolas e governos.

A cultura como fenómeno de grupo

Uma consequência inevitável é que a cultura, sendo um fenómeno partilhado, gera soluções coletivas.

A análise de evidências históricas, biológicas e antropológicas mostra que a adaptação cultural em grupo tem moldado sociedades há milhares de anos — desde a disseminação da agricultura até à emergência dos Estados modernos. Hoje, ganhos em saúde, longevidade e qualidade de vida resultam mais de sistemas coletivos, como a medicina científica, a educação pública ou a infraestrutura sanitária, do que da inteligência ou dos genes individuais.

“Se os humanos estão a evoluir para depender da adaptação cultural, isso significa que também estamos a evoluir para nos tornarmos mais orientados para o grupo e mais dependentes dele”, sublinha Waring.

Uma transição mais profunda

Ao longo da história da vida, ocorreram transições evolutivas que redefiniram o conceito de “indivíduo” — como quando células individuais se uniram para formar organismos multicelulares ou quando insetos sociais evoluíram para colónias altamente cooperativas.

Até agora, muitos biólogos mostravam-se céticos quanto a uma mudança semelhante em humanos. Mas Waring e Wood sugerem que a dependência crescente da cultura poderá estar a reorganizar a própria individualidade humana — no sentido do coletivo.

Exemplo disso é a engenharia genética: uma tecnologia cultural que permite manipular o material genético, mas que só existe em sociedades complexas. Se esta tendência se consolidar, no futuro longínquo os descendentes da humanidade poderão deixar de evoluir geneticamente como indivíduos e passar a evoluir sobretudo como “superorganismos” sociais.

O que vem a seguir

A equipa sublinha que a teoria é testável e apresenta propostas para medir a velocidade desta transição, através de modelos matemáticos e computacionais e de recolha sistemática de dados. Contudo, alerta contra a interpretação de que a evolução cultural represente progresso ou superioridade.

“Não estamos a sugerir que sociedades com mais riqueza ou tecnologia sejam moralmente ‘melhores’”, ressalva Wood. “A evolução pode gerar soluções benéficas, mas também resultados brutais. O nosso objetivo é ajudar a humanidade a evitar as consequências mais negativas.”

O estudo integra uma linha de investigação em curso no Applied Cultural Evolution Laboratory da Universidade do Maine, que procura compreender padrões profundos da evolução humana para promover mudanças sociais positivas.

No entanto, o trabalho levanta questões de fundo sobre o futuro da humanidade:

“Se a herança cultural continuar a dominar, o nosso destino enquanto indivíduos — e o futuro da nossa espécie — poderá depender cada vez mais da força e da adaptabilidade das nossas sociedades”, conclui Waring. “Nesse caso, a próxima etapa da evolução humana poderá não estar escrita no ADN, mas sim nas histórias, sistemas e instituições que criamos em conjunto.”

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