O relatório internacional “Dez novas percepções sobre o Clima”, com a contribuição do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia), destaca que este bioma está a perder a sua capacidade de regular o ciclo da água e remover carbono da atmosfera, o que pode ter impactos catastróficos em escala global
A degradação da floresta, impulsionada por fatores como fogo, extração de madeira, expansão agrícola, construções e eventos climáticos extremos, reduzem a resiliência do bioma
Perda de capacidade de remoção de carbono:
A Amazónia, que em 2022 acumulava 47,2 mil milhões de toneladas de carbono na sua vegetação, já perdeu mais de 10,6 mil milhões de toneladas devido à degradação. A diminuição da capacidade da floresta de absorver CO2 contribui para o aumento do aquecimento global.
Estudos apontam que áreas de floresta impactadas pelo fogo de forma reiterada têm uma redução de até 68% na capacidade de conter dióxido de carbono (CO₂) na biomassa da vegetação. Queimadas únicas já reduzem em cerca de 50% o stock de carbono nas áreas afetadas.
Impacto no ciclo da água:
A Amazónia regula 16% da água do planeta. A degradação da floresta afeta sua capacidade de influenciar os padrões de chuva na América do Sul por meio da evapotranspiração, prejudicando o clima regional.
O fumo das queimadas, por sua vez, pode reduzir a humidade libertada pela floresta, impactando os “rios voadores” que levam humidade para outras regiões.
Risco de colapso e savanização:
A continuidade da destruição da Amazónia pode levar a um ponto sem retorno, transformando-a em uma savana empobrecida. A perda de resiliência da floresta torna-a mais vulnerável à seca, que se intensifica com o aquecimento global. Investigadores observam que, em vez de se transformar numa savana, a floresta amazónica está a tornar-se uma floresta secundária, mais pobre e com menos stock de carbono. As espécies florestais, mais sensíveis, são as mais afetadas pelo fogo, com risco de extinção local.
Ameaças à biodiversidade:
A Floresta Amazónica abriga uma diversidade única de espécies, e a perda de resiliência coloca em risco essa rica biodiversidade. O empobrecimento da floresta causado pelo fogo compromete serviços ecossistémicos cruciais, como a regulação da chuva, o sequestro de carbono e a polinização.
Fatores de degradação e urgência de ação
Os principais fatores que contribuem para a perda de resiliência da Amazónia incluem a extração de madeira, queimadas, a proximidade a atividades humanas e secas. A combinação de extração de madeira e queimadas causa stress na floresta, diminuindo a sua capacidade de recuperação. As áreas mais próximas a estradas e assentamentos humanos são mais vulneráveis.
A realidade no Brasil é de um enfraquecimento das leis ambientais e da fiscalização, favorecendo a exploração ilegal de terras e o agronegócio predatório. O desmatamento, combinado com o fogo, torna-se um processo irreversível.
Medidas necessárias
O relatório e outras pesquisas apontam para a urgência de ações para proteger a Amazónia. É fundamental:
- Fortalecer leis ambientais para combater a degradação em todos os países da Amazónia.
- Continuar a financiar programas de monitorazação e rastreamento de commodities.
- Apoiar povos indígenas e comunidades locais no desenvolvimento de uma economia sustentável.
- Priorizar a proteção da Amazónia com medidas robustas de preservação.
- Promover uma economia que valorize os serviços ecossistémicos da floresta, incentivando cadeias produtivas sustentáveis.
- Limitar o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa.
Apesar da gravidade da situação, ainda há tempo para reverter a tendência de degradação da Amazónia. A colaboração internacional é essencial, pois o colapso da Amazónia afetaria não apenas o Brasil, mas o mundo todo. A pergunta não é apenas quão perto estamos do colapso, mas o que estamos dispostos a fazer para evitá-lo.
Texto EcoDebate, ISSN 2446-9394.