Apesar de alguns progressos importantes desde 2021, as emissões globais de metano continuam a aumentar e o mundo permanece longe de cumprir a meta internacional de reduzir este potente gás com efeito de estufa em 30% até 2030, conclui o Global Methane Status Report 2025, divulgado esta segunda-feira pela ONU Ambiente (UNEP) e pela Coligação Clima e Ar Limpo (CCAC).
O relatório foi apresentado em Belém, Brasil, à margem da COP30, e fornece a avaliação mais abrangente até à data sobre o ritmo e a eficácia das medidas mundiais para conter o metano — responsável por cerca de um terço do aquecimento global atual.
Progresso existe, mas é insuficiente
Segundo o documento, as emissões continuam a aumentar, mas a trajetória futura melhorou quando comparada com previsões anteriores. Novas regulamentações de resíduos na Europa e na América do Norte, bem como um crescimento mais lento do mercado de gás natural entre 2020 e 2024, conduziram a uma revisão em baixa das projeções para 2030.
Ainda assim, os autores sublinham que “apenas a implementação plena e acelerada das medidas de controlo já existentes e tecnicamente comprovadas permitirá alcançar o objetivo da Global Methane Pledge”.
As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e os Planos Nacionais de Ação para o Metano submetidos até meados de 2025 poderiam traduzir-se numa redução de 8% das emissões até 2030, face aos níveis de 2020 — a maior queda sustentada alguma vez registada. Mas esse valor continua muito aquém da meta de 30%.
Soluções existem e são economicamente vantajosas
O relatório destaca que mais de 80% do potencial de redução até 2030 pode ser alcançado a baixo custo. O setor da energia representa 72% desse potencial, seguido dos resíduos (18%) e da agricultura (10%).
Entre as medidas mais eficazes estão:
- programas de deteção e reparação de fugas no setor do petróleo e gás,
- selagem de poços abandonados,
- melhor gestão da água no cultivo do arroz,
- separação e tratamento de resíduos orgânicos.
A plena aplicação destas soluções poderia evitar, todos os anos, mais de 180 mil mortes prematuras e 19 milhões de toneladas de perdas agrícolas. No setor dos combustíveis fósseis, todo o potencial de mitigação poderia ser concretizado com apenas 2% dos rendimentos obtidos em 2023.
G20 tem papel decisivo
O relatório revela que 72% do potencial global de mitigação se concentra nos países do G20+, onde as emissões poderiam cair 36% até 2030, relativamente a 2020, caso se avance com medidas abrangentes nos setores agrícola, de resíduos e de combustíveis fósseis. Para isso, é essencial reforçar a medição, o reporte e o financiamento.
Líderes políticos apelam a uma ação urgente
Os responsáveis políticos presentes na ministerial da Global Methane Pledge reforçaram que “as políticas, tecnologias e parcerias necessárias já existem, mas exigem uma rápida expansão”.
Julie Dabrusin, ministra do Ambiente e Alterações Climáticas do Canadá, sublinhou que, apesar dos avanços, “é necessário cortar emissões de forma mais rápida e profunda”, alertando que cada tonelada reduzida “significa ar mais limpo, comunidades mais resilientes e uma economia global mais forte”.
Dan Jørgensen, Comissário Europeu para a Energia e Habitação, destacou que o compromisso global “transformou ambição em progresso tangível”, mas alertou que o desafio agora é “escalar as soluções para manter 1,5°C ao alcance”.
Para Inger Andersen, diretora executiva da UNEP, reduzir o metano é “uma das formas mais imediatas e eficazes de travar a crise climática”, com benefícios diretos para a saúde pública e a segurança alimentar.
Decisões dos próximos cinco anos serão determinantes
O relatório conclui que as escolhas políticas, económicas e tecnológicas feitas até 2030 irão definir se o mundo consegue aproveitar esta oportunidade para garantir ar mais limpo, economias mais robustas e um clima mais seguro para as gerações futuras.

