Estudo “Divided we fall –The risks of competitive fragmentation on Europe’s road to net zero” sustenta que a Europa e a China têm liderado a transformação verde. Os investimentos verdes da China continuam a crescer, atingindo 676 mil milhões de dólares em 2024 mas os níveis de investimento da Europa começaram a estabilizar na casa dos 500 mil milhões de dólares
A transição energética decorre a diferentes velocidades à escala global, mas é um importante motor económico. No ano passado, e de acordo com o estudo Divided we fall –The risks of competitive fragmentation on Europe’s road to net zero, da Allianz Trade, líder mundial em Seguro de Crédito, o setor das energias limpas acrescentou 320 mil milhões de dólares à economia mundial em termos de valor acrescentado, o que representa mais 10% do crescimento do PIB mundial.
Entre as geografias que lideram este movimento está a China e a Europa. Contudo, com níveis de investimento diferentes: os investimentos verdes da China continuam a crescer, atingindo 676 mil milhões de dólares em 2024 (3,7% do seu PIB); já a Europa viu os seus investimentos começaram a estabilizar em quase 500 mil milhões de dólares, tendo mesmo diminuído em relação ao seu PIB de 1,9% para 1,8% nos últimos dois anos, após o início da crise energética mundial.
A China, de acordo com o estudo, consegue ter economias de escala e baixos custos energéticos, de capital de recursos humanos, o que lhe permite aumentar o nível de investimento e, por conseguinte, assegurar uma posição dominante. No caso da energia fotovoltaica, a China é responsável por cerca de 80% da produção mundial de polissilício, células e módulos solares, bem como por 97% da produção de wafer solar de silicone. A atual posição dominante no mercado é reforçada pelos recentes desenvolvimentos em matéria de aumento da capacidade de produção. Sendo que, as estimativas presentes neste estudo da líder mundial de Seguro de Crédito sugerem que, em 2030, é provável que a capacidade de fabrico ecológico da China seja 74% superior à do resto do mundo. Desse montante, a expectativa é que a procura interna represente apenas um terço, o que significa que o remanescente deverá ter como destino os mercados externos, reforçando ainda mais a posição da China como a potência mundial do fabrico de tecnologias limpas.
Protecionismo
Perante o desempenho da China na indústria transformadora e no comércio, a Europa levou a cabo algumas medidas de protecionismo verde. O estudo da Allianz Trade sinaliza que, no Velho Continente a percentagem de importações verdes, com origem da China, aumentou de 2,3% em 2014 para 13,6% em 2023. Em contraste, nos EUA essa percentagem permanece muito inferior, com 4,6% no ano passado, o que é o reflexo das políticas protecionistas adotadas pelas autoridades norte-americanas. Perante este cenário, a Europa tem estado a introduzir medidas do foro aduaneiro para proteger as suas indústrias verdes. As tarifas sobre os veículos elétricos chineses são apenas o exemplo mais recente.
Por outro lado, a União Europeia (UE) está também a trabalhar para robustecer a sua política industrial ecológica com o objetivo de estimular a produção nacional e salvaguardar a competitividade estratégica. Em resposta à Lei de Redução da Inflação dos EUA, que prometeu mais de 360 mil milhões de dólares em créditos fiscais, subvenções e empréstimos para reforçar a produção de tecnologias limpas, recorda a Allianz Trade, o Plano Industrial do Pacto Ecológico da UE visa aumentar a competitividade da indústria europeia de emissões líquidas nulas, com o REPowerEU a afetar mais de 250 mil milhões de euros a aprovações, incentivos fiscais e requalificação da mão de obra.
Contudo, as medidas protecionistas, que visam apoiar as indústrias locais podem também representar riscos para a transição energética e para as relações internacionais. O isolacionismo poderá limitar a produção e a exportação de bens essenciais para a transformação energética mundial, conduzindo a preços mais elevados e a potenciais atrasos nos objetivos de descarbonização das economias.
Neste sentido, os ganhos de competitividade a curto prazo, fruto de um maior protecionismo, podem ser tentadores, os governos têm de adotar uma abordagem equilibrada para evitar a fragmentação ecológica, que atrasaria a transição e prejudicaria a indústria nacional da Europa a longo prazo devido ao aumento dos custos da energia e à diminuição da competitividade global, salienta a análise da líder mundial em Seguro de Crédito.
Para um crescimento ecológico sustentável, indica o estudo, a Europa deve avaliar cuidadosamente quais os setores que podem competir a nível mundial, onde se justificam medidas de proteção e onde a criação de barreiras ao comércio ecológico causaria mais danos do que benefícios. A energia eólica e o hidrogénio são dois sectores-chave em que a Europa já detém uma posição forte e pode capitalizar as oportunidades de crescimento verde, em especial se começar a pensar para além das suas fronteiras.