A promoção de uma estratégia equilibrada entre eletrificação e a utilização de combustíveis de baixo carbono (CBC), complementada pelo biometano, é essencial para cumprir as metas de descarbonização dos transportes até 2030, concluiu um estudo hoje divulgado.
“O sucesso da transição dependerá de decisões políticas firmes, capazes de mobilizar investimento, garantir previsibilidade regulatória e promover uma estratégia equilibrada entre eletrificação, biocombustíveis avançados e RFNBOs [combustíveis renováveis de origem não-biológica], complementada pelo biometano, face à atual estrutura das frotas”, concluiu o Estudo sobre Combustíveis de Baixo Carbono em Portugal – Perspetivas para 2030, hoje divulgado.
A análise foi desenvolvida pela NOVA School of Science and Technology, pelo Instituto Politécnico de Setúbal e pelo Instituto Politécnico de Leiria, parceiros académicos da Plataforma de Combustíveis de Baixo Carbono (PCBC).
O estudo concluiu que Portugal dispõe de condições técnicas e recursos endógenos, mas depende daquelas condições para atingir as ambiciosas metas definidas pela União Europeia para 2030 e a neutralidade carbónica no setor dos transportes até 2050, com justiça económica, social e ambiental.
Segundo a análise, prevê-se que, até 2030, exista um aumento das necessidades de consumo de combustíveis líquidos, com maior preponderância de gasolina, uma vez que “mesmo com o aumento da venda de veículos ligeiros de passageiros eletrificados, verifica-se também um aumento das vendas de veículos a gasolina e de veículos híbridos”.
Quanto aos veículos pesados, estima-se que em 2030 cerca de 90% da frota continue a ser de combustão interna, pelo que a incorporação de combustíveis de baixo carbono, líquidos e gasosos, será indispensável para alcançar as metas, salienta o estudo.
“Sob os pontos de vista técnico, económico e social, as frotas não irão evoluir exclusivamente, nas próximas décadas, no sentido dos veículos elétricos, mas continuarão a existir veículos com motores de combustão interna, de forma mais evidente no setor dos pesados”, realça.
Assim, aponta, o caminho estratégico deve passar por reforçar a recolha e logística de resíduos, incentivar biorrefinarias de segunda geração e RFNBOs, com regimes de apoio diferenciados e simplificação do licenciamento, acelerar a aposta no biometano em transportes pe¬sados, com enquadramento regulatório e fiscal favorá¬vel, assegurar a complementaridade entre eletrificação e CBCs e aumentar a estabilidade regulatória e financeira.
A análise destaca ainda que o potencial endógeno de biorresíduos é quatro a seis vezes superior às necessidades, assegurando a sustentabilidade da oferta.
O estudo conclui que, apesar de Portugal dispor de capacidade instalada de produção de biocombustíveis (770 mil metros cúbicos em 2022), a produção efetiva foi de apenas 35-40% desse valor, devido à dependência de matérias-primas importadas, como Óleos Alimentares Usados (OAU), gorduras animais e óleos residuais.
“Os projetos em curso, como a unidade da Galp para produção de HVO [óleo vegetal hidrotratado] e Combustíveis Sustentáveis para a Aviação (SAF), serão decisivos para cumprir a quota mínima de 5,5% de biocombustíveis avançados e RFNBOs até 2030”, aponta o documento, ressalvando que a viabilidade económica da expansão destes combustíveis de baixo carbono “continuará dependente de incentivos governamentais, estabilidade regulatória e desenvolvimento tecnológico”.
O setor dos transportes é responsável por cerca de 26% das emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEEs) na União Europeia (UE) e por cerca de 25% em Portugal.
A Comissão Europeia estabeleceu a meta de 29% de renováveis nos transportes até 2030 e neutralidade carbónica até 2050.
A frota nacional é envelhecida, com a idade média dos veículos ligeiros a fixar-se em 13,6 anos e dos pesados em 15,5 anos, em 2023, e fortemente dependente do diesel, sobretudo no transporte pesado (99,6%).