Apesar da perda de centenas de espécies nos últimos séculos, um estudo recente conclui que não estamos a viver uma extinção em massa comparável àquela que extinguiu os dinossauros ou às grandes extinções do passado. A investigação, publicada a 4 de setembro na revista científica de acesso aberto PLOS Biology, sugere que, embora as extinções a nível de espécies sejam elevadas, a perda de géneros e famílias – níveis taxonómicos superiores – permanece relativamente baixa.
O estudo, conduzido por John Wiens, da Universidade do Arizona (EUA), e Kristen Saban, da Universidade de Harvard (EUA), analisou dados sobre mais de 22 mil géneros de plantas e animais avaliados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O objetivo foi quantificar a gravidade das extinções modernas a níveis superiores ao da espécie.

Tabela S1. Padrões de extinções recentes ao nível do género entre os principais grupos de animais e plantas. Para cada grupo, indicamos o número de géneros recentemente extintos nesse grupo (Ext. géneros), o número total de géneros com uma ou mais espécies avaliadas pela IUCN (Assd.), a proporção de géneros extintos (entre os avaliados; Ext./Assd.), a proporção de géneros avaliados no grupo em relação ao número total de géneros descritos (Assd./Total) no grupo, o número total de espécies no grupo (Espécies totais) e a proporção de géneros extintos entre todos os géneros no grupo (Extintos/Total). Note-se que reduzimos o número de géneros avaliados para ter em conta o género inválido de gastrópodes Collisella na IUCN, mas não modificámos o número total de géneros ou espécies (uma vez que este género não é reconhecido pelo Catálogo da Vida). Fonte: Recent extinctions of plant and animal genera are rare, localized, and decelerated
Os investigadores identificaram 102 géneros conhecidos que se extinguiram desde o ano 1500, representando menos de 0,5% dos géneros avaliados. Quase metade dessas extinções ocorreu em aves e mamíferos, mais de três quartos estavam confinadas a ilhas e as taxas mais altas de extinção ocorreram entre o final do século XIX e o início do século XX. Estes dados indicam que, ao nível do género, as extinções modernas continuam relativamente baixas e que não têm aumentado nas últimas décadas, contrariando alguns estudos anteriores.
“Um estudo recente sugeriu que as extinções de géneros animais estão a acelerar rapidamente e que isso coloca a sobrevivência humana em risco. Nós descobrimos que as extinções de géneros são, na realidade, muito raras, ocorrem sobretudo em ilhas isoladas e diminuíram ao longo do último século em vez de acelerarem”, afirma John Wiens.
O investigador acrescenta que nunca houve evidências de que estas extinções, que atingiram o pico há cerca de 100 anos e ocorreram principalmente em ilhas isoladas, colocassem em perigo a sobrevivência humana. “Defendemos que a razão para impedir futuras extinções não é o risco que representam para os humanos, mas sim que é moralmente errado que a humanidade conduza outras espécies à extinção”, sublinha.
Kristen Saban reforça a importância da comunicação científica rigorosa: “Agora, mais do que nunca, dada a desconfiança generalizada na ciência, é crucial conduzir a investigação em conservação de forma cuidadosa e apresentar os resultados com precisão”.
Os autores alertam que, apesar das extinções a nível de géneros ainda serem baixas, a ameaça à biodiversidade continua séria, pelo que é essencial continuar a monitorizar e proteger espécies e ecossistemas.


