O contacto com o fumo tem impactos para a saúde, como o aumento do risco de hipertensão em grávidas e maior propensão para doenças crónicas, bem como efeitos negativos na aprendizagem das crianças na primeira infância.
Nas últimas duas décadas, a frequência e a intensidade dos incêndios florestais considerados “extremos” — aqueles que causam impactos sociais, económicos e ambientais severos ou que fogem ao controlo das equipas de combate — mais do que duplicaram em todo o mundo. Embora o problema afecte amplamente a sociedade, as grávidas e as crianças na primeira infância (0 a 6 anos) estão entre os grupos mais vulneráveis.
O alerta faz parte da publicação “Crescer num mundo em aquecimento: Como o fumo dos incêndios florestais afecta o desenvolvimento na primeira infância”, produzida pelo Center on the Developing Child, da Universidade de Harvard, e traduzida para português pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI). O estudo reúne evidências científicas sobre os impactos da exposição ao fumo, tanto durante a gravidez como nos primeiros anos de vida.
Durante a gestação, o contacto com o fumo pode desencadear processos inflamatórios no organismo da grávida e aumentar o risco de hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia, parto prematuro e baixo peso à nascença.Os nascimentos prematuros, por sua vez, estão associados a uma série de complicações a longo prazo, como dificuldades cognitivas, crescimento reduzido e maior propensão para doenças crónicas, incluindo problemas cardiovasculares e diabetes na idade adulta.
Estes riscos decorrem da composição do fumo das queimadas, que contém partículas finas altamente nocivas para a saúde. Para além dos efeitos imediatos sobre as populações próximas, o fumo pode espalhar-se por milhares de quilómetros. Chega a ser até dez vezes mais tóxico do que a poluição proveniente de automóveis, fábricas ou até do fumo do tabaco.
O impacto estende-se também à infância, principalmente a bebés e crianças pequenas. Pesquisas demonstram que crianças expostas ao fumo dos incêndios florestais apresentam maior índice de internamentos e atendimentos de urgência por asma, além de maior ocorrência de infecções respiratórias, como pneumonia e bronquite. A aprendizagem é outra área afectada: um estudo realizado nos Estados Unidos demonstrou que alunos expostos ao fumo no ano anterior às avaliações escolares tiveram notas significativamente mais baixas, especialmente quando os episódios coincidiram com o período lectivo.
Como reduzir os riscos?
Para mitigar os efeitos dos incêndios florestais na saúde materno-infantil, a publicação da Universidade de Harvard recomenda várias medidas:
- Garantir acesso a sistemas de filtragem de ar e máscaras adequadas para proteger grávidas e crianças durante os episódios de incêndios florestais.
- Criar “espaços de ar limpo” em ambientes frequentados por crianças pequenas, com janelas vedadas e sistemas de climatização equipados com filtros.
- Ampliar a comunicação sobre a qualidade do ar, assegurando que grávidas e cuidadores recebam alertas em tempo real.
- Investir em políticas de gestão florestal adaptadas ao cenário de alterações climáticas, que incluem temperaturas mais altas e secas prolongadas.
- Valorizar e incorporar práticas tradicionais e conhecimentos indígenas para tornar as florestas mais resilientes.
- Reduzir a dependência de combustíveis fósseis, principal motor do aquecimento global.
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