Emissões de gases de efeito de estufa do Top 10 de instalações industriais / companhias de aviação reduzem-se em 11 por cento entre 2023 e 2024, muito à custa da queda nas centrais a gás natural fóssil, principalmente na Tapada do Outeiro
A ZERO recorreu aos dados disponibilizados pela Comissão Europeia referentes ao registo de emissões associado ao Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE) para efetuar uma seriação das instalações mais poluentes de Portugal em 2024 no que respeita às emissões de dióxido de carbono, principal gás de efeito de estufa causador das alterações climáticas. Em causa estão unidades industriais e companhias aéreas. O Comércio Europeu de Licenças de Emissão integra as principais unidades de setores fortemente emissores de emissões de carbono, nomeadamente centrais térmicas, refinação, cimento, pasta de papel, vidro, entre outras.
Em Portugal, há 136 empresas que declararam emissões em 2024 no âmbito do CELE, incluindo algumas companhias aéreas. No caso das centrais térmicas utilizando combustíveis fósseis, todas as licenças de emissão têm de ser adquiridas (compradas em leilão), enquanto noutros setores uma grande parte das licenças é oferecida gratuitamente e a restante tem de ser adquirida. As empresas de transporte aéreo sediadas em Portugal são também contabilizadas, sendo consideradas apenas as emissões de voos entre aeroportos na União Europeia e entre a União Europeia e a Suíça. Ao longo do ano de 2024, o custo da tonelada de dióxido de carbono esteve entre os 55 e os 75 Euros por tonelada no mercado europeu.
Entre 2023 e 2024, o Top 10 das instalações e/ou empresas aéreas mais poluentes manteve-se, mas com algumas trocas de posição significativas. As mudanças mais relevantes prendem-se com a redução significativa das emissões das centrais térmicas a gás natural fóssil para produção de eletricidade, principalmente no caso das centrais da Tapada do Outeiro e também do Pego, dado o maior peso das renováveis, e uma maior dominância na indústria da produção de cimento nos lugares cimeiros:
- A dominância, pelo quarto ano consecutivo, da Refinaria de Sines da PETROGAL como a instalação mais
poluente:
a) o valor atingido pelo setor da refinação mostra um peso muito significativo e crescente dos combustíveis fósseis na nossa economia e emissões poluentes; a GALP continua a ser uma empresa virada para a exploração e produção de combustíveis fósseis com mais de seis vezes e meia vezes do seu investimento a eles dedicado por comparação com investimento em renováveis – de acordo com o relatório integrado de gestão de 2024, 77% (59% no denominado segmento upstream e 18% no industrial e midstream), por comparação com 12% para o segmento
renováveis e novos negócios; saliente-se, aliás, um decréscimo em termos relativos do total de investimento em renováveis de 13% para 12% entre 2023 e 2024; - b) entre 2023 e 2024, as emissões atingiram cerca de 2,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono, um aumento de 11% (cerca de 270 mil toneladas), representando quase 5% do total de emissões líquidas de Portugal em 2023 (para haver um termo de comparação);
- c) a TAP, que nesta seriação tem características um pouco diferentes dada a natureza da sua atividade como companhia aérea por comparação com instalações industriais e das emissões consideradas serem apenas as de voos intraeuropeus incluindo Suíça, tem um ligeiro aumento de um por cento, mas sobe ao segundo lugar dada a enorme queda de 80 por cento das emissões da central de produção de eletricidade da Tapada do Outeiro;
- d) a dominância das centrais a gás natural fóssil, mas com muito menores emissões devido ao maior peso de eletricidade produzida por fontes renováveis, caindo o total de emissões das três centrais de 2,7 milhões de toneladas em 2023 para 1,1 milhões de toneladas em 2024;
- e) A listagem no Top 10 de instalações / companhias aéreas em 2024 é igual a 2023.
- Em 2024, o Top 10 é assim dominado pelo setor da refinação, produção eletricidade a partir da queima de gás
natural fóssil, setor cimenteiro e transporte aéreo.

Um outro aspeto importante é o facto do total das dez unidades com maiores emissões poluentes ter associada uma redução de emissões de 11% entre 2023 e 2024 (de 9,5 para 8,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono), sendo que, no entanto, esta redução entre 2022 e 2023, tinha atingido 14 por cento.

Num futuro próximo, tudo indica que continuarão a ser a refinaria de Sines, as centrais de ciclo combinado a gás natural fóssil e o setor cimenteiro que dominarão a seriação das unidades empresariais maiores emissoras de dióxido de carbono, a par de um crescimento do setor da aviação que em Portugal se reflete nas emissões da TAP, relativamente não muito visível neste enquadramento dada o elevado peso de destinos extraeuropeus.
Este acompanhamento por parte da ZERO insere-se no âmbito do projeto LIFE EFFECT, financiado pela Comissão Europeia, que visa promover uma participação mais ampla da sociedade civil nos processos de tomada de decisão e de monitorização, bem como reforçar a colaboração internacional. O objetivo é assegurar que o Comércio Europeu de Licenças de Emissão beneficie tanto o clima como as pessoas, tirando ensinamentos do atual regime (CELE 1) para construirmos um segundo CELE que integrará os transportes rodoviário e o edificado, denominado CELE 2, mais robusto e ambicioso.


