Primeiro estudo a avaliar a presença de microplásticos no golfinho-do-Índus alerta para ameaças graves à espécie e reforça urgência de estratégias de conservação.
Um grupo internacional de investigadores identificou, pela primeira vez, microplásticos no trato gastrointestinal completo de golfinhos-do-Índus (Platanista minor), uma espécie de água doce em risco de extinção e considerada símbolo da biodiversidade do Paquistão. O estudo, publicado na revista científica PLOS ONE, revela que todos os cinco exemplares analisados, encontrados encalhados no rio entre 2019 e 2022, apresentavam partículas de plástico nos seus órgãos digestivos.
Em média, cada animal tinha 286 fragmentos de microplásticos, sendo as fibras de poliéster (PET) as mais comuns. A presença foi particularmente elevada no intestino delgado, devido à sua extensão e estrutura, o que sugere acumulação durante a digestão.

Diferentes tipos de microplásticos, incluindo fibras, fragmentos, folhas e esferas, foram identificados num estereomicroscópio, e a sua composição foi determinada por espectroscopia ATR-FTIR. Essa diversidade morfológica destaca a complexidade da contaminação por microplásticos no ecossistema estudado. Crédito:Ahsaan Ali, CC-BY 4.0 (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/)
Poluição invisível, riscos reais
Os microplásticos — fragmentos inferiores a 5 milímetros resultantes da degradação de resíduos maiores ou produzidos intencionalmente em processos industriais e cosméticos — têm sido associados a sérios impactos ecológicos e de saúde. No caso dos golfinhos-do-Índus, os cientistas alertam que estas partículas podem transportar contaminantes tóxicos, metais pesados e até microrganismos patogénicos, com efeitos que vão desde alterações metabólicas até problemas de reprodução.
A avaliação de risco realizada pelos autores classifica a ameaça como moderada a elevada, colocando a espécie sob pressão adicional num ecossistema já fragmentado por barragens e intensamente poluído.
Um sentinela do rio Indus
O golfinho-do-Índus é um cetáceo exclusivo do sistema fluvial paquistanês, com uma pequena população residual na Índia. Atualmente, encontra-se dividido em subpopulações isoladas devido à construção de barragens ao longo dos 900 quilómetros do rio. Listado como “em perigo” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), é considerado um espécie-sentinela: o seu estado de saúde reflete a qualidade ambiental do rio e serve de alerta para riscos que podem também afetar comunidades humanas.
Chamado à ação
Os autores sublinham que este é apenas um ponto de partida. “Os resultados mostram de forma clara que a poluição por plásticos já atingiu níveis preocupantes no habitat do golfinho-do-Índus. É essencial avançar com estudos ecotoxicológicos mais aprofundados e implementar medidas de mitigação urgentes”, refere a equipa.
Entre as recomendações destacam-se:
- redução da descarga de plásticos e microplásticos no rio, nomeadamente através de melhor gestão de resíduos urbanos e industriais;
- monitorização contínua das populações de golfinhos e das suas presas;
- cooperação internacional para desenvolver estratégias de conservação focadas nos ecossistemas de água doce.
Mais do que uma questão ambiental, trata-se de preservar um símbolo cultural e natural de um dos maiores rios da Ásia. O estudo recorda que proteger o golfinho-do-Índus é também proteger a saúde e sustentabilidade das comunidades humanas que dependem do rio.
No post abaixo veja a diferença entre os vários golfinhos do rio
