Novo estudo revela que gorilas fêmeas não são tão “submissas” como se pensava
Há mais de 50 anos, a ideia de que os machos tinham poder social universal sobre as fêmeas em todas as espécies de mamíferos foi contestada pela descoberta de que as fêmeas tinham poder sobre os machos em hienas-malhadas e algumas espécies de lémures. Um crescente corpo de pesquisas sugere que essas espécies não são exceções, mas representam uma extremidade de um ‘continuum’ de relações de poder intersexuais que variam de estritamente masculinas a estritamente femininas.
Durante décadas, contaram-nos que no mundo dos gorilas, os machos reinavam, as fêmeas obedeciam e ponto final. Afinal, parece que a história tinha umas páginas em falta. Um novo estudo de cientistas do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva (Alemanha) e da Universidade de Turku (Finlândia) veio baralhar as cartas: as fêmeas, mesmo pesando metade dos machos, conseguem vencer conflitos, garantir prioridade na comida e, em alguns casos, colocar os machos “na ordem”.
Não vamos falar de pequenas discussões sobre uma banana mais madura — são disputas sérias, documentadas ao longo de trinta anos e envolvendo quatro grupos de gorilas-das-montanhas selvagens. Resultado? Quase todas as fêmeas de grupos com mais de um macho conseguem sobrepor-se a pelo menos um deles.
“Queríamos investigar porque, apesar de os machos serem muito maiores e terem caninos que fariam inveja a um vampiro de Hollywood, as fêmeas parecem ter mais margem de manobra do que se supõe”, explica Nikos Smit, autor principal do estudo.
David contra Golias…
Em média, as fêmeas vencem um em cada quatro conflitos contra machos que não são o alfa. Porquê? Há várias hipóteses:
- O macho alfa pode apoiar as fêmeas nas suas disputas (talvez para manter a paz no grupo… ou porque sabe que uma fêmea irritada pode ser pior que um rival).
- Os machos subordinados cederam terreno de propósito, talvez para continuarem a usufruir das regalias do grupo.
De qualquer forma, quando uma fêmea vence, não é só pela glória: tem acesso prioritário a certos alimentos — um privilégio que desafia a velha narrativa de que as fêmeas competem apenas por comida e os machos apenas por… fêmeas.
Adeus mito da “patriarquia natural”
A descoberta não é apenas um detalhe curioso sobre gorilas. Mostra que, mesmo em espécies com grande diferença física entre os sexos, o poder não se resume a músculos e dentes. Como nota Martha Robbins, responsável pelo projeto de longa duração em Bwindi (Uganda), as fêmeas vencem até machos jovens e velhos — todos eles ainda bem maiores. Ou seja, o tamanho importa… mas não é tudo.
E, no meio disto, surge uma implicação mais ousada: talvez a ideia de patriarcado humano não seja uma herança integrada dos nossos “primos” primatas, mas sim um produto cultural nosso.
No fim, a lição dos gorilas fêmeas parece clara — o poder pode ter menos a ver com quem tem os maiores músculos e mais com quem sabe usar a cabeça… ou a rede de alianças. E, neste jogo, as fêmeas provam que sabem jogar.
Artigo aqui: https://www.mpg.de/25119311/0730-evan-it-s-not-just-about-size-150495-x


