Escaparam por pouco à extinção. De 25 animais passaram a 225 mil, mas a que preço? Será que a perda genética não os fragilizou? Estes resultados são importantes para a conservação das espécies e gestão dos ecossistemas
Um novo estudo internacional revelou o impacto genético da caça nos elefantes-marinhos do Norte. Publicado na revista “Nature Ecology and Evolution”, a investigação mostra que esta espécie escapou por pouco à extinção, o que resultou em efeitos genéticos duradouros na população atual. Quinze investigadores alemães, britânicos e americanos de sete universidades e quatro instituições de investigação colaboraram neste estudo liderado pela Universidade de Bielefeld.
No início do século XX, os elefantes-marinhos do Norte estavam à beira de serem dizimados pela caça. As análises genéticas sugerem que, nessa altura, a população estava provavelmente reduzida a menos de 25 animais”, explica Joseph Hoffman, autor principal do estudo e diretor do grupo de Genética Evolutiva das Populações da Universidade de Bielefeld. Estes declínios drásticos da população podem reduzir a diversidade genética de uma espécie, aumentando o risco de consanguinidade e ameaçando a sua sobrevivência.
A população de elefantes marinhos do norte recuperou entretanto para cerca de 225 mil indivíduos. O estudo publicado na revista “Nature Ecology and Evolution” analisa o impacte que este acontecimento de quase extinção teve na diversidade genética e na saúde da espécie.
Adaptabilidade em risco
Para as suas análises, os investigadores combinaram dados genéticos, registos de saúde, modelação da dimensão das populações e simulações genéticas. As suas conclusões sugerem que o grave declínio da população levou à perda de muitos genes benéficos e prejudiciais do património genético do elefante-marinho do norte. Este padrão não foi observado no elefante-marinho do sul, que não registou um declínio tão drástico.
A diversidade genética altamente reduzida, incluindo a perda de cópias de genes benéficos, pode prejudicar a capacidade do elefante-marinho do norte para lidar com futuras mudanças ambientais, incluindo as provocadas por alterações climáticas antropogénicas, alterações no habitat da espécie ou mesmo ameaças naturais, como surtos de doenças”, adverte Kanchon K. Dasmahapatra, da Universidade de York, no Reino Unido, o autor principal do estudo.
Resultados surpreendentes sobre a consanguinidade
Todos os indivíduos de uma espécie são portadores de algumas mutações prejudiciais, embora os seus efeitos sejam normalmente ocultos. No entanto, os indivíduos consanguíneos podem enfrentar problemas de saúde à medida que essas mutações são expostas. “Analisámos vários traços-chave da saúde destas focas, incluindo o peso corporal, a espessura da gordura e a suscetibilidade a doenças. Para nossa surpresa, não encontrámos sinais de problemas de saúde relacionados com a consanguinidade”, afirma Joseph Hoffman., dizendo ainda que acreditam que o grave declínio da população pode ter eliminado muitas mutações prejudiciais.
Importância para a conservação das espécies
Este estudo ilustra a forma como a história populacional única de uma espécie molda a sua diversidade genética”, afirma Kanchon K. Dasmahapatra. Os resultados oferecem perspectivas importantes para a conservação das espécies e a gestão dos ecossistemas. Joseph Hoffman acrescenta: “A nossa investigação sublinha a importância de compreender a história de uma espécie ao planear estratégias de conservação. Cada uma responde de forma diferente às ameaças, pelo que as abordagens individualizadas são essenciais”.
Publicado na revista Nature
O estudo foi publicado na revista “Nature Ecology & Evolution”. Esta revista online abrange todos os aspectos da investigação ecológica e evolutiva. De acordo com o fornecedor de serviços de dados Clarivate, a revista tem um fator de impacto de 13,9 (2023). Para a realização do estudo, colaboraram cientistas das seguintes instituições: Universidades de Bielefeld, Düsseldorf, Cambridge (Reino Unido), Califórnia Santa Cruz e Davis (EUA), Hampton (EUA) e York (Reino Unido), bem como o Centro de Biotecnologia da Universidade de Bielefeld, o British Antarctic Survey (Reino Unido), o Northwest Fisheries Science Centre (Seattle, EUA) e o Alan Turing Institute (Reino Unido).