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Impacto do financiamento de família e amigos nas decisões de empreendedores

Com receio de prejudicar as relações pessoais acabam por assumir menos riscos afetando o crescimento dos negócios

Muitas vezes, os empresários não dispõem dos recursos e do financiamento necessários para lançar uma empresa e recorrem à família e aos amigos para obter o apoio inicial. Uma nova investigação levada a cabo por três professores da Kelley School of Business da Universidade de Indiana revela que a existência de laços tão estreitos com os investidores pode levar os fundadores a tomarem decisões mais conservadoras em matéria de crescimento da empresa e a hesitarem mais em assumir riscos.

“Neste estudo, procurámos compreender como a aceitação de fundos destes indivíduos influencia as preferências de um empresário em termos de assunção de riscos”, afirmou Donald F. Kuratko, Jack M. Gill Chair of Entrepreneurship e diretor executivo e académico do Johnson Center for Entrepreneurship and Innovation. “Quando a relação de um empresário com um investidor se fortalece — tal como acontece com a família e os amigos — é mais provável que este antecipe a culpa associada às decisões da empresa, uma vez que o fundador considera que as suas opções podem levar a empresa ao fracasso”, acrescentou Greg Fisher, professor de empreendedorismo. “O que  muitas vezes condiciona o fundador a tomar decisões mais conservadoras relativamente ao crescimento da empresa, o que por vezes pode ser contrário a um comportamento empreendedor.”

Mulheres de negócios a apertar as mãos num escritório e sorridentes
Foto: Vecteezy

Financiamento por “família e amigos” é uma das fontes mais comuns das empresas em fase de arranque angariarem dinheiro

O artigo, “Funding-source-induced bias: How social ties influence entrepreneurs’ anticipated guilt and risk-taking preferences”, foi publicado no Journal of Business Venturing. Os outros autores são Regan Stevenson, professora associada de empreendedorismo e gestão, e Emily Neubert, professora assistente de empreendedorismo na Texas Christian University e aluna de doutoramento da Kelley, que liderou o projeto.

Utilizando uma amostra de 193 empresários ativamente envolvidos em programas de incubadoras e aceleradoras, os investigadores testaram um modelo segundo o qual a força do laço de um empresário com um investidor — se fossem familiares ou amigos — tinha impacto na culpa antecipada do empresário ao tomar decisões estratégicas, o que, por sua vez, se correlacionava com o facto de fazer escolhas estratégicas de crescimento menos arriscadas.

A investigação introduz o conceito de “enviesamento induzido pela fonte de financiamento”, que é um desvio na tomada de decisões empresariais resultante da relação de um empresário com um investidor, levando a uma antecipação da culpa aquando da tomada de decisões arriscadas. Assim, os empresários que recebem financiamento de familiares e amigos próximos têm mais probabilidades de optar por opções de crescimento de menor risco para evitar essa culpa antecipada.

Há vantagens em receber financiamento para a fase inicial da empresa por parte de familiares e amigos — é mais acessível do que outros tipos de financiamento e é oferecido em condições mais flexíveis. No entanto, tem custos ocultos. As relações pessoais podem ser afectadas se as expectativas de crescimento e sucesso da empresa não forem cumpridas. É a preocupação com estas relações tensas que leva os empresários a fazerem escolhas de crescimento mais conservadoras.

Este estudo chama a atenção para o lado menos explorado da relação investidor-empresário: examina a forma como as fontes de financiamento afetam a tomada de decisões empresariais. Uma vez que os empresários podem procurar obter investimento de uma variedade de recursos, os resultados ajudam os empresários (e as pessoas que os orientam ou ensinam) a compreender como a sua tomada de decisões pode ser afetada pelos seus investidores.

“Ao investigar o enviesamento induzido pela fonte de financiamento dos empresários, esclarecemos a forma como estas influenciam as decisões e acções dos empresários”, afirmou Emily Neubert. “Esperamos que este estudo motive futuras investigações sobre este lado da relação de troca investidor-empresário.”

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