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Impactos nos ecossistemas marinhos deverão mais do que duplicar até 2050

Um novo estudo publicado esta semana na revista Science lança um alerta preocupante: os impactos cumulativos das atividades humanas nos ecossistemas marinhos poderão aumentar entre 2,2 e 2,6 vezes até meados do século XXI, em resultado do aquecimento global, da sobrepesca, da poluição e de outras pressões.

A investigação, liderada por Benjamin Halpern, da Universidade da Califórnia, e coassinada por cientistas de várias instituições internacionais, analisou dez tipos de pressões humanas — desde a subida da temperatura e da acidez da água até às perdas de biomassa provocadas pela pesca — e o seu efeito sobre vinte habitats marinhos distintos. Os dados foram mapeados com uma resolução de 10 km, permitindo prever como estas pressões evoluirão até 2050 sob dois cenários climáticos distintos: o “intermédio” (SSP2-4.5), que reflete as atuais políticas, e o mais extremo (SSP5-8.5), em que as emissões de CO₂ duplicam até meados do século.

Os resultados mostram que os impactos não serão distribuídos de forma uniforme. Nas regiões tropicais, as pressões deverão praticamente triplicar até 2060, enquanto nos pólos, apesar do ritmo de crescimento ser mais lento, continuarão a registar-se os níveis médios mais elevados de impacto cumulativo.

Atualmente, menos de 0,1% dos oceanos apresenta um índice de impacto tão elevado que inviabiliza a sobrevivência dos habitats no seu estado atual. Mas esta percentagem deverá disparar para quase 4% até meados do século no cenário mais pessimista. Nas zonas costeiras — onde a dependência das comunidades humanas é maior — a situação é ainda mais grave: mais de 20% poderão ultrapassar esse limiar até 2050.

Pesca e aquecimento das águas na linha da frente

Entre todos os fatores avaliados, dois destacam-se como principais motores de degradação futura: o aquecimento das águas e as perdas de biomassa causadas pela pesca. Mesmo em regiões com melhor gestão pesqueira, como a Europa e a América do Norte, as pressões permanecem elevadas devido a décadas de exploração intensa. Já em países com governação mais frágil, prevê-se que as capturas continuem a cair abaixo de níveis sustentáveis, agravando o problema.

Outras pressões, como a poluição luminosa, os nutrientes e a perturbação costeira, terão aumentos mais lentos, em parte porque estão diretamente associados ao crescimento populacional, que deverá estabilizar ou mesmo diminuir em algumas regiões.

Habitats mais vulneráveis

O estudo revela também grandes diferenças na forma como os vários habitats serão afetados. As zonas costeiras, nomeadamente pradarias marinhas, sapais, zonas rochosas intertidais, recifes rochosos e mangais, estão entre os ecossistemas que sofrerão maiores impactos cumulativos. No extremo oposto, habitats de águas profundas — como montes submarinos, fundos bentónicos profundos e ambientes pelágicos profundos —, bem como os fundos rochosos continentais e algumas florestas de kelp, deverão enfrentar pressões relativamente mais baixas.

A discrepância é notável: prevê-se que os sapais sofram quase quatro vezes mais impactos do que os fundos rochosos profundos, que se encontram entre os menos afetados.

Padrões regionais

Geograficamente, destacam-se como zonas de maior risco o Ártico e a Antártida, os mares em torno da Rússia oriental (Estreito de Bering e Mar de Okhotsk), o Mediterrâneo, o Sudeste Asiático e várias áreas costeiras que vão do Médio Oriente até à Índia. Regiões que atualmente sofrem menos pressão, como a África Oriental, Madagáscar e algumas partes da Oceânia, poderão registar aumentos rápidos devido a uma combinação de mudanças climáticas e intensificação da pesca.

Por outro lado, áreas como grande parte da Austrália e extensas regiões dos oceanos Pacífico Sul, Atlântico Sul e Índico deverão manter níveis relativamente baixos de impacto. Curiosamente, algumas zonas residuais, como perto da Gronelândia meridional ou entre a Islândia e a Noruega, poderão até registar ligeiras melhorias.

Países mais vulneráveis

A equipa de investigadores identificou ainda os países mais expostos a futuros impactos. Entre os casos mais preocupantes estão aqueles que, além de enfrentarem grandes aumentos de pressão, têm uma elevada dependência dos ecossistemas marinhos para alimentação e economia. Exemplos disso incluem Togo, Gana e Sri Lanka, onde as comunidades costeiras poderão ver seriamente comprometida a sua segurança alimentar e os seus meios de subsistência.

Um apelo à ação

Para os autores, estes resultados são um alerta claro para a necessidade de integrar previsões de impacto nas políticas públicas e na gestão dos oceanos. “Só assim será possível garantir uma utilização sustentável dos recursos marinhos e proteger os serviços essenciais que eles prestam às sociedades humanas”, concluem.

Este texto foi escrito a partir do estudo, aqui

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