#PorUmMundoMelhor

Teresa Cotrim

Lagartos do deserto enfrentam aperto no “custo de vida” com o aumento das temperaturas

Os impactos futuros do aquecimento serão mais severos em África do que na Austrália, com os lagartos do deserto africano a necessitarem de mais comida com menos tempo para a encontrar

Todos sabemos o que significa para nós um aumento do custo de vida. Coloque-se no lugar de um lagarto do deserto. Para este animal, o “custo de vida” está intimamente ligado à sua temperatura corporal, que determina a quantidade de alimentos de que necessita e se pode sair para se alimentar. Os lagartos do deserto são especialmente afetados porque a comida é escassa e muitas vezes está demasiado calor para procurar alimentos. 

O estudo, publicado hoje na revista Science, concluiu que o aquecimento climático pode “espremer” os orçamentos energéticos dos lagartos do deserto, aumentando a quantidade de alimentos de que necessitam apenas para sobreviver e diminuindo o tempo que têm para os encontrar.

 O autor principal e investigador da Universidade de Melbourne, Kristoffer Wild, afirmou que o aquecimento climático afetará as espécies de forma diferente consoante a altura em que se alimentam e ilustra a importância de adaptar as estratégias de conservação para salvaguardar as populações de espécies. 

 “O custo de vida é um conceito de que os humanos estão demasiado conscientes, mas o mesmo conceito aplica-se aos ectotérmicos ­— ou animais de sangue frio — como os lagartos. Só precisamos de mudar a moeda do dinheiro para a energia e perceber que, para os lagartos, estes custos e a sua capacidade de os suportar dependem da temperatura”, Kristoffer Wild.

“O nosso estudo revela que, à medida que os desertos aquecem, os lagartos diurnos (ativos durante o dia) enfrentam um aperto — precisam de mais comida e têm menos tempo para a encontrar. Por outro lado, os lagartos noturnos (notívagos) podem beneficiar de noites mais quentes que permitem mais tempo de caça.

“Por outras palavras, é como se os lagartos diurnos pagassem contas mais altas com menos horas de trabalho, enquanto os lagartos noturnos podem contrariá-las ganhando horas de trabalho extra durante as noites mais quentes.”

Os investigadores conseguiram prever o custo de vida com um modelo que combina a física com a biologia. O coautor e investigador da Universidade de Melbourne, Michael Kearney, disse que conseguiram testar as previsões do seu modelo com dados históricos de campo para quantificar o impacto do aquecimento climático nos répteis do deserto em todos os continentes. 

“Conseguimos reconstruir, com uma margem de dois ou três graus, o que um biólogo de campo observou no meio dos desertos australianos e africanos há mais de 50 anos”, Kearney.  “Isto dá-nos confiança para prever os efeitos diretos do aquecimento climático sobre estes animais no futuro. Se conseguirmos compreender melhor os processos ecológicos subjacentes a estas pressões sobre o custo de vida, poderemos antecipar melhor as espécies em maior risco e agir em conformidade.”

Os investigadores também descobriram que, globalmente, as áreas que historicamente registaram um maior aquecimento enfrentarão mais desafios no futuro.

“Podemos antecipar que os impactos futuros do aquecimento serão mais severos em África do que na Austrália, com os lagartos do deserto africano a necessitarem de mais comida com menos tempo para a encontrar”, disse o Dr. Wild.

Os investigadores afirmaram que os efeitos do aquecimento nos orçamentos energéticos são ainda agravados por outros factores associados às alterações climáticas, incluindo a disponibilidade de alimentos e o aumento das necessidades de água em ambientes áridos.

“É importante salientar que mostramos que as pressões energéticas são maiores no verão e na primavera, que é a janela reprodutiva de muitas espécies”, afirmou o Dr. Wild.

“Os nossos próximos passos consistirão em incluir os recursos alimentares e hídricos nos nossos cálculos e traduzir os resultados em termos de crescimento e reprodução, o que nos ajudará a prever se as populações sobreviverão a novas alterações decorrentes do aquecimento.”

Em destaque

  • All Posts
  • Agenda
  • Agricultura
  • Ambiente
  • Análise
  • Biodiversidade
  • Ciência
  • Curiosidades
  • Dinheiro
  • Empresas
  • Entrevista
  • ESG
  • Estudo
  • Finanças
  • Finanças Verdes
  • Inovação
  • Inovação Social
  • Internacional
  • Opinião
  • Pessoas
  • Saúde
  • Sem categoria
  • Social
  • Tecnologia
  • Tendências
Receba as notícias diretamente no seu email. Assine a nossa newsletter mensal.
Receba as notícias diretamente no seu email. Assine a nossa newsletter mensal.