Estas “florestas” protegem as comunidades costeiras contra inundações, tempestades e erosão, de acordo com um novo estudo do Centro para a Resiliência Climática Costeira da UC Santa Cruz
O estudo, intitulado Building Coastal Resilience with Mangroves: The Contribution of Natural Flood Defenses to the Changing Wealth of Nations, destaca o papel essencial que os mangais desempenham na proteção das comunidades costeiras contra inundações, tempestades e erosão, oferecendo benefícios significativos tanto para as pessoas como para as economias nacionais. À medida que as alterações climáticas aceleram a frequência e a gravidade das tempestades, a necessidade de defesas costeiras eficazes torna-se cada vez mais urgente. Tradicionalmente, os governos têm-se virado para infra-estruturas rígidas, como paredões e diques, para se protegerem contra as inundações. No entanto, o estudo do centro revela que os ecossistemas naturais — em particular os mangais — podem ser igualmente, se não mais, eficazes como defesas costeiras, proporcionando simultaneamente benefícios ambientais adicionais.
Os manguezais foram incluídos pela primeira vez como ativos de proteção costeira pelo Banco Mundial na edição de 2021 de The Changing Wealth of Nations. Esta nova pesquisa expande esse trabalho anterior ao incorporar dados globais atualizados de 2020, oferecendo uma imagem mais clara do valor protetor dos manguezais ao longo do tempo. Usando modelos avançados de risco de inundação, isto porque os investigadores analisaram florestas de mangue em 121 países, cobrindo 700.000 quilómetros de costas subtropicais.
O estudo conclui que o valor dos mangais para a redução do risco de inundações está a aumentar drasticamente, em grande parte devido ao aumento da população, da riqueza e das tempestades nas costas de todo o mundo. De 1996 a 2010, o valor dos mangais para a redução do risco de inundações aumentou 130 mil milhões de dólares e, de 2010 a 2020, os benefícios a longo prazo dos mangais aumentaram mais 502 mil milhões de dólares. Apesar de alguns declínios na cobertura dos mangais — impulsionados por factores como a criação de camarões e o desenvolvimento costeiro — o seu valor como amortecedores de inundações aumentou à medida que mais pessoas e infra-estruturas passaram a contar com a sua proteção.
“Os resultados são claros: os mangais desempenham um papel fundamental na redução dos riscos de inundação e devem ser vistos como activos naturais valiosos”, afirmou Pelayo Menendez, continuando “Oferecem uma proteção eficaz em termos de custos às comunidades costeiras e apoiam a riqueza nacional através da preservação de vidas, meios de subsistência e infra-estruturas.”
A investigação vai além da importância ambiental dos mangais, sublinhando o seu valor económico como ativos de capital natural. O valor de 855 mil milhões de dólares representa o montante atual dos serviços de proteção contra inundações dos mangais, ou seja, os benefícios desta infraestrutura natural nos próximos 100 anos. Os países que mais beneficiam destes serviços todos os anos são a China, o Vietname, a Austrália, os Estados Unidos e a Índia.
O estudo mostra também que, embora a perda de mangais tenha continuado de 2010 a 2020, a taxa de declínio abrandou significativamente para apenas 0,66%. Nesse mesmo período, os benefícios de proteção proporcionados pelos mangais cresceram ainda mais rapidamente do que o risco global de inundação. Isto marca um ponto de viragem, com os mangais a protegerem mais 61% das pessoas e a salvaguardarem mais 109% dos bens de capital das inundações em 2020, em comparação com uma década antes.
Países como o Vietname, o Bangladesh, a Índia, a China e os Camarões foram os que mais beneficiaram destes ganhos, com os mangais a protegerem centenas de milhares de pessoas por ano. Por outro lado, países como a Malásia, Myanmar e Taiwan registaram um declínio nos benefícios dos mangais, sublinhando a necessidade de aumentar os esforços de conservação nestas regiões.
As conclusões surgem numa altura crítica em que os países de todo o mundo procuram soluções sustentáveis para os riscos climáticos crescentes. Os mangais oferecem uma solução natural e económica para a proteção contra inundações, o que os torna uma componente essencial de qualquer estratégia de adaptação ao clima.
Enquanto os governos e os decisores políticos olham para o futuro, o estudo fornece um argumento convincente para investir na conservação e recuperação dos mangais. “Proteger e restaurar os mangais não é apenas bom para o ambiente – é uma escolha económica inteligente”, afirmou Beck. “Esses ecossistemas fornecem serviços inestimáveis que ajudam a criar resiliência contra as crescentes ameaças das mudanças climáticas.”
Nota:
A investigação, conduzida pelo co-líder do projeto, Pelayo Menendez, e pelo diretor do centro, Michael W. Beck, é apresentada na edição de 2024 do The Changing Wealth of Nations do Banco Mundial.
O Centro para a Resiliência Climática Costeira também divulgou estes resultados e dados como parte da ferramenta de apoio à decisão Coastal Resilience Explorer.
