A corrida global para explorar os fundos marinhos em busca de metais essenciais para a transição energética poderá ter consequências devastadoras para a vida marinha. Um novo estudo alerta que tubarões, raias e quimeras estão entre as espécies mais vulneráveis ao avanço da mineração em mar profundo, sobretudo em áreas além da jurisdição nacional, conhecidas como high seas.
Segundo a investigação, 30 espécies destes animais já apresentam sobreposição direta com as zonas de exploração planeadas pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla inglesa), organização criada pelas Nações Unidas para regular a atividade. As ameaças chegam por dois caminhos: a destruição física dos habitats do fundo do mar e as plumas de sedimentos e metais tóxicos libertadas durante o processo de extração.

Figura 1 Esquema de duas vias de impacto potenciais (impactos bentónicos diretos e impactos em águas médias) da mineração em alto mar para nódulos polimetálicos, sulfetos polimetálicos e crostas de ferromanganês ricas em cobalto
Espécies em risco agravado
Mais de metade das espécies identificadas (60%) já estão classificadas como ameaçadas de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), devido sobretudo à sobrepesca e à degradação dos ecossistemas. A mineração poderá agravar a sua situação.
O estudo destaca casos preocupantes: algumas espécies colocam os ovos diretamente no leito marinho ou dependem de corais profundos para se reproduzir. A mineração de sulfuretos polimetálicos, por exemplo, ocorre junto a fontes hidrotermais onde já foram descobertas maternidades naturais de raias. A destruição destes locais pode comprometer o ciclo de vida de populações inteiras.
Além disso, espécies filtradoras – que se alimentam de partículas suspensas na água – correm riscos elevados com as plumas de sedimentos libertadas pelas operações. Estas plumas podem permanecer em circulação durante meses ou até anos, causando dificuldades respiratórias, afetando a visão de predadores e transportando metais pesados ao longo de vastas distâncias.
Impacto em larga escala
A dimensão prevista para a mineração em mar profundo é impressionante: entre 1,4 e 2,3 milhões de quilómetros quadrados de fundo oceânico – até 23 vezes mais do que toda a área ocupada atualmente pela mineração em terra. As zonas mais visadas incluem os nódulos polimetálicos do Pacífico, as crostas ricas em cobalto de montes submarinos e os sulfuretos junto a fontes hidrotermais.
Apesar de a ISA ter estabelecido algumas áreas de proteção, os cientistas alertam que estas medidas são insuficientes. O estudo sublinha também lacunas graves no conhecimento sobre a biodiversidade destes ecossistemas, dado que novas espécies continuam a ser descobertas a cada expedição.
Chamado à precaução
Os autores defendem que qualquer início de mineração deve ser precedido por estudos de base robustos e monitorização contínua. Recomendam ainda que as plumas de descarga sejam libertadas abaixo dos 2.000 metros de profundidade ou diretamente no leito marinho, para reduzir a sobreposição com espécies que vivem na coluna de água.
Com quase dois terços das espécies afetadas já em risco de extinção, os cientistas alertam que avançar sem garantias de proteção pode levar a perdas irreversíveis.
A mensagem é clara: antes de transformar os fundos marinhos em minas industriais, é preciso compreender melhor a riqueza de vida que ali existe – e decidir se os metais valem o preço da extinção.