Sabia que 54% da superfície terrestre do mundo consiste em áreas florestais, mas apenas 10% dos planos climáticos nacionais, caso do Acordo Climático de Paris, incluem referências a esses biomas…
Mas antes de avançar, vamos explicar o que são biomas. O mundo natural está organizado por divisões, a que se dá o nome de bioma, que são conjuntos de ecossistemas do mesmo tipo. Cada um caracteriza-se pela diversidade de espécies que habitam nessas regiões, espécies essas que têm características comuns consoante certas zonas do planeta. Essa diversidade depende da capacidade de adaptação de cada organismo.
Um novo atlas dessas paisagens pode orientar os negociadores do clima e da biodiversidade a prepararam-se para as cúpulas da Organização das Nações Unidas (ONU). Este mostra que 54% da superfície terrestre do mundo consiste em biomas diferentes das florestas. São áreas que abrigam alguns dos habitats mais preciosos da Terra e sustentam centenas de milhões de pessoas.
Embora sejam conhecidos por desempenhar um papel fundamental no armazenamento de carbono, como habitat para diversos animais selvagens e origem para alguns dos maiores rios e pântanos do mundo, parte da razão pela qual foram subvalorizados é a falta de dados consolidados sobre sua extensão e valor.
O Rangelands Atlas preenche parte dessa lacuna. Biomas não florestais (rangelands, em inglês) consistem em sete biomas, incluindo pastagens, savanas, desertos, arbustos e tundra. O atlas, que engloba 16 mapas e será continuamente atualizado, foi publicado em conjunto pelo International Livestock Research Institute, a União Internacional para a Conservação da Natureza, o WWF, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Coalizão Internacional de Terras, com contribuições da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
“Até o momento, os esforços de conservação e desenvolvimento têm se concentrado nas florestas, deixando de lado outros ecossistemas valiosos. Este atlas mostra-nos, pela primeira vez, a extensão dessas áreas e destaca que devemos parar de negligenciá-las se quisermos enfrentar as crises climáticas e naturais do mundo e, ao mesmo tempo, atender de forma sustentável à procura global de alimentos. A proteção, gestão e restauração dos ricos e variados ecossistemas que compõem os biomas não florestais são fundamentais e sua relevância deve ser refletida nas agendas de conservação global”, declarou Karina Berg, líder da iniciativa global Grasslands and Savannahs, do WWF.
Um exemplo recente de esforços de conservação dos biomas não florestais é o projeto CERES, iniciativa da União Europeia com as organizações WWF-Brasil, WWF-Paraguai, WWF-Holanda e ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza). Com quatro anos de duração e 5,5 milhões de euros de investimentos, este visa encontrar, testar e alavancar soluções inclusivas de conservação da paisagem no Cerrado brasileiro que possam ser replicadas em outras savanas ao redor do mundo. Iniciativas para preservar biomas não florestais são urgentes: até o momento, apenas 12% deles são designados como áreas protegidas. Boa parte do restante está ameaçada pela escalada da conversão, especialmente para agropecuária.
O atlas mostra que nos últimos três séculos mais de 60% da vegetação nativa e florestas foram convertidas — uma área maior que a América do Norte — e uma área aproximadamente do tamanho da Austrália (7,45 milhões de km2) agora é usada para plantações. Essa mudança no uso da terra contribui para a crise climática e o atlas mostra que as áreas não florestais também sofrerão com o aquecimento global. Os efeitos drásticos ocorrem em uma área com o dobro do tamanho da Europa, com a natureza a ser perigosamente desestabilizada e a capacidade de produzir alimentos, combustível e fibras a ficar reduzida. Os novos dados do Atlas podem ajudar os formuladores de políticas a gerir melhor esses biomas, com grandes benefícios para as pessoas, a natureza e o clima.
O atlas está disponível em www.rangelandsdata.org/atlas (conteúdo em inglês).