A OMS perde 500 milhões de dólares e o avanço científico dos EUS e Trump ganha controle sobre a saúde pública do seu país, pode investir este montante a nível interno, mas perde a influência global a nível de saúde pública e todo um manancial internacional onde podiam fazer pesquisa
Agências da ONU lamentaram a intenção dos Estados Unidos de se retirarem da Organização Mundial da Saúde, (OMS). A medida foi assinada pelo por Donald Trump no seu primeiro dia no posto como Presidente do país. Segundo Trump, a OMS exige pagamentos injustamente onerosos aos EUA. Se recuarmos a julho de 2020, no meio da pandemia de COVID 19, o recente empossado retirou o apoio a esta organização pela primeira vez, sendo depois reposto por Joe Biden. Agora na carta enviada à OMS, realça a “má gestão da pandemia de Covid 19 por esta organização e acusa-a de incapacidade de demonstrar independência da influência política inapropriada dos estados-membros das OMS”.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, informou numa nota que a agência desempenha um papel crucial na proteção da saúde e da segurança da população mundial, inclusive das pessoas dos Estados Unidos. Tedros Ghebreyesus pede que o país repense a decisão. Propõe um diálogo construtivo para manter a parceria, “em benefício da saúde e do bem-estar de milhões de pessoas em todo o mundo”.
Em Genebra, o porta-voz da OMS lembrou que os Estados Unidos é um dos membros fundadores da OMS e que diversas instituições americanas contribuíram e se beneficiaram da adesão à instituição. Esta foi fundada em 1948 como uma agência especializada em saúde subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU), com a sede em Genebra, na Suíça. Atualmente conta com 190 países-membros espalhados em seis regiões.
Tedros Ghebreyesus destacou ainda que juntos a OMS e os Estados Unidos salvaram inúmeras vidas e protegeram a população mundial de ameaças à saúde. O representante citou exemplos como a erradicação da varíola e a quase erradicação da poliomielite.
Em 2023, os Estados Unidos foram o maior doador individual da OMS, contribuindo com 18% de todo o orçamento. Feitas as contas colaboram com cerca de 550 milhões de dólares anualmente — são o maior doador individual, o que impacta nas ações desta instituição em países emergentes. Além de que os EUA estão na vanguarda da investigação científica médica. São um parceiro valioso no combate às doenças. Por exemplo, durante a crise de Ebola, a OMS teve um papel importante a coordenar a resposta a nível internacional, algo que poderia ter ficado comprometido sem os recursos financeiros e científicos dos EUA.
A colaboração entre países é essencial para enfrentar desafios globais, como mudanças no clima, resistência a antibióticos e doenças emergentes. Ao deixarem a OMS os EUA afetam negativamente as políticas globais de saúde e dificultam os esforços conjuntos para enfrentar essas ameaças. Exemplo da tuberculose de malária que atingem essencialmente países em desenvolvimento, mas também no combate a epidemias e pandemias.
A saída de Trump pode também incentivar outros países a repensar a sua posição, procurar outras alternativas ou a fortalecer organizações regionais de saúde, caso da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Se isto suceder poderia aumentar as tensões geopolíticas, com países como a China ou a EU a tornarem-se mais influentes na OMS.
Colocando agora os pros e os contras desta decisão. Os EUA ficam com mais controle sobre as suas políticas de saúde pública, sem precisar de seguir as orientações internacionais. Depois, como a contribuição financeira é elevada a decisão de cortar neste orçamento é visto como uma forma de economizar recursos, podendo investir internamente em infraestruturas de saúde, educação ou segurança, por exemplo. Do outro lado da moeda, os EUA perdem a influência global em saúde pública e apesar de desempenharem um papel crucial no avanço da ciência e na pesquisa médica, a OMS sempre lhes facilitou o acesso a redes internacionais de pesquisa, a testes clínicos e inclusive a desenvolvimento de tratamentos. Tudo isso agora ficará sem efeito.
Em comunicado a LUSA refere que em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Guo Jiakun, sublinhou que a OMS é “a instituição internacional mais autorizada e profissional no domínio da saúde pública global” e tem desempenhado um “papel central na coordenação global da governação da saúde”.
“O papel da OMS deve ser reforçado e não enfraquecido”, afirmou Guo, em resposta às acusações da Casa Branca sobre a alegada falta de contribuição significativa da China para a organização. De relembrar que Trump disse durante o primeiro mandato (2017-2021) que a Eles, a China pagavam 39 milhões de dólares (37,6 milhões de euros) e nós, EUA a pagar 500 milhões (482 milhões de euros). “Parece-me um pouco injusto”