#PorUmMundoMelhor

Luís Cristino

O Algodão não engana e tramou a SHEIN

No destaque desta semana, falamos sobre o escrutínio que a SHEIN teve na comissão parlamentar britânica sobre os direitos dos trabalhadores na sua cadeia de fornecimento, no passado dia 7. Digamos que muito foi dito sem ser realmente dito, afinal nem sabem a origem do algodão…

A SHEIN encerrará o ano de 2024 com 20 mil milhões de euros de vendas na Europa, igualando o volume de negócios da Inditex, uma das maiores empresas de vestuário na UE. No entanto, a Europa não cobra um cêntimo de impostos à SHEIN. O seu gigantesco volume de vendas na Europa já impacta severamente o setor têxtil Europeu, mas não estamos apenas a perder receitas. Estamos a perder empregos, ecossistemas, e valores, numa luta desigual.

A maior parte do interrogatório da semana passada centrou-se na cadeia de fornecimento da SHEIN, especialmente na origem do seu algodão. Apesar das várias tentativas dos deputados para obter respostas claras, muitas perguntas ficaram sem resposta. Quando questionada sobre o fornecimento de algodão de Xinjiang, uma região associada a trabalho forçado, a representante da SHEIN, Yinan Zhu, desviou-se do assunto, prometendo dar seguimento mais tarde. Os deputados ficaram frustrados e o presidente da comissão, Liam Byrne, expressou “confiança zero” na transparência na cadeia de fornecimento da SHEIN.

Pessoalmente dei uma gargalhada quando perguntaram a Yinan Zhu, se alguma vez tinha ido a um fornecedor. Ao responder que sim, perguntaram-lhe se eram produtos de algodão. Não sabia dizer, apenas sabia que eram artigos de vestuário. Exclamei de imediato – “Elementar meu caro Watson!”. Mas, sinceramente nem Zhu nem a comissão fazem a mais pálida ideia do que sepassa no fabrico de vestuário. Afinal, ambos estão sentados nas suas cadeiras e faustosos gabinetes. E julgo que está aí um dos grandes problemas de uma Europa burocrata e que se está a tornar lobista.

Bastaram 10 minutos para que SHEIN ‘chumbasse’ na prova de ética e fosse acusada de desrespeito e desprezo a uma comissão parlamentar de negócios e comércio do Reino Unido (ou seja, basicamente o governo) por se ter recusado a responder de uma forma clara a uma simples pergunta, sobre a utilização de algodão da província de Xinjiang, região acusada de trabalhos forçados. O que não é grande coisa para se ser acusado, se quiser estar cotado na bolsa de valores de Londres ainda este ano como é sua pretensão.

A empresa também já tentou entrar na bolsa de valores nos EUA, mas foi travada por políticos norte-americanos pelas mesmas razões: falta de garantia de que não recorre a trabalho forçado. Uma coisa ficou espelhada, involuntariamente, suspeito: dos seus cerca de

5400 fornecedores a SHEIN só conhece os seus fabricantes de nível 5. Depois disso, não fazem a mínima ideia. Ou talvez conheçam, mas provavelmente só de terem recebido de volta um código de conduta de dezenas de páginas que todos assinam de cruz. Sabemos bem como é, pois infelizmente ainda é assim como a maioria das marcas.

E é aqui que a luta é desigual, uma Europa que obriga às marcas a ver no local e a saber como é a sua cadeia de fornecimento, a fazer o seu Dever de Diligencia para garantir que são cumpridos os direitos dos trabalhadores dos seus fornecedores, se não tem trabalho infantil na sua cadeia de fornecimento assim como em termos ambientais são garantidas que as suas operações e dos seus fornecedores não impactam negativamente. Ou seja tudo para

garantir que o modelo de negócio e a estratégia da empresa são compatíveis com a transição para uma economia sustentável e com o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Assim como uma Europa que está a pensar na transparência e traçabilidade da cadeia de fornecimento dos produtos da moda e não só com a implementação de um Passaporte Digital de Produto, que não é só para retirar as inestéticas etiquetas mas para o consumidor saber de toda a história da peça que vai comprar. Como foi feita, o que está nela contida, a sua pegada, etc.

É com este tipo de empresas que nos temos de confrontar. Que não querem saber nada disto. Mas um empresário europeu tem que se preocupar porque se já é difícil vender sem esta preocupação então mais difícil fica. Por isso?! Antes de comprarem pechinchas preocupem-se como a peça de vestuário foi feita. Se houve exploração de pessoas? Se foi produzida com preocupação ambiental? ou então façam o simples exercício. Se a peça chega à minha mão por uma pechincha será que toda gente que a produziu recebeu dignamente pelo trabalho que teve, ou se simplesmente comeu. No final das contas, não se trata apenas de um código de conduta ou de legislação mais rigorosa, mas de uma escolha pessoal e consciente. Cada peça de roupa que compramos é um reflexo dos valores que decidimos financiar. Ao privilegiar preços baixos e ignorar o custo humano e ambiental por trás deles, estamos a endossar práticas que desvalorizam vidas e destroem o planeta. Por isso, da próxima vez que uma promoção reluzente lhe chamar a atenção, pergunte-se: o verdadeiro preço desta peça será pago por quem? E está disposto a carregar essa etiqueta invisível?

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