#PorUmMundoMelhor

Luís Cristino

O espírito de Natal ou o show off dos mais de sete milhões de euros gastos em leds pelo país fora…

Há mais de 40 anos, numa noite fria de Dezembro, uma família da província fez a primeira visita natalícia dos mais novos a Lisboa — na altura, Vigo ainda não era moda. A cidade estava iluminada de uma ponta à outra, e a Avenida da Liberdade parecia um corredor mágico de luzes e cores. No meio do deslumbramento, o mais novo da família, ainda muito criança, exclamou com os olhos a brilhar: “Eina, pai?! Tanta luz!”

Naquele momento, o encanto era genuíno. As luzes eram especiais, talvez porque não estavam em todo o lado, talvez porque transmitiam algo mais do que uma mera competição entre cidades. Hoje, pergunto- me: será que ainda sentimos o mesmo deslumbramento? Ou será que as luzes, agora multiplicadas em milhões de LEDs, perderam o significado e se tornaram apenas pano de fundo para selfies?

De norte a sul do país por esta altura, as cidades “vestem-se” a rigor para a época natalícia, numa competição silenciosa – mas cara – para ver quem exibe mais luzes, maior brilho, rodas gigantes e árvores de Natal mais imponentes e cintilantes. Lisboa e Porto lideram esta corrida, mas não estão sozinhas: juntas, as sete maiores autarquias do país gastam mais de 3 milhões de euros em iluminações de Natal. Este fenómeno, justificado como estratégia local para atrair visitantes e revitalizar o comércio local, levanta questões prementes: será que funciona? Traz o tão esperado retorno económico para os comerciantes das zonas históricas ou apenas um espetáculo efémero para as redes sociais?

Muitas autarquias tentam suavizar a consciência coletiva anunciando horários reduzidos e a utilização de luzes LED – supostamente mais sustentáveis. Certamente um encher de boca com uma das palavras
mais badaladas ao longo do ano. No entanto, pouca ou nenhuma autarquia apresenta publicamente o impacto energético e financeiro destas decorações. No fundo, o custo destas iniciativas será sempre pago pelos contribuintes, direta ou indiretamente.

Considere-se, por exemplo, os números de algumas cidades:

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E a lista continua, numa dança de números que parece ignorar a realidade social de muitas famílias. Enquanto milhões de LEDs cintilam pelas avenidas, as carências de quem mais necessita parece que ficam à sombra. Esta dança de números reflete o verdadeiro espírito natalício ou apenas uma competição de vaidades?

Este não é um apelo ao fim das iluminações de Natal, mas sim a uma reflexão sobre prioridades, e à quantidade de dinheiro que se gasta. Será que esta “loucura” reflete o verdadeiro espírito de Natal? Ou será que o espírito natalício se perdeu na luz ofuscante de uma roda gigante ou no gelo artificial de uma pista de patinagem? E se esses milhões fossem investidos, não em iluminações led em forma de azevinho e sino, mas em projetos que proporcionassem impacto duradouro? O verdadeiro espírito de Natal não deveria ser vivido todo o ano, apoiando quem mais precisa, em vez de ser resumido a três semanas de espetáculo de luz e consumo desenfreado?
O brilho do Natal deveria continuar estar nos gestos – não nos números. Agora, cabe às autarquias decidir: continuar a alimentar esta febre luminosa ou iluminar verdadeiramente o caminho de quem mais necessita.

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Um Bom e Santo Natal para todos!

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