Um novo estudo desafia ideias antigas sobre como as plantas distribuem as suas raízes no solo – e pode mudar a forma como vemos o papel das raízes na luta contra as alterações climáticas
Um grupo de investigadores analisou, pela primeira vez de forma tão abrangente, a profundidade e distribuição das raízes finas das plantas em diferentes ecossistemas do continente americano — desde a tundra do Alasca até às florestas tropicais de Porto Rico. E o que descobriram surpreendeu até os próprios cientistas: em cerca de 20% dos locais estudados, as raízes não seguem o padrão tradicional de se concentrarem apenas nas camadas superiores do solo. Pelo contrário, apresentam um padrão “bimodal”, ou seja, com dois picos de concentração — um deles, surpreendentemente, abaixo de 1 metro de profundidade.
Esta investigação, publicada na revista científica Nature Communications, foi realizada com base em dados do projeto NEON (National Ecological Observatory Network), uma rede de observatórios ecológicos dos EUA que recolhe dados padronizados de ecossistemas naturais.
Nutrientes escondidos nas profundezas
A equipa descobriu que estes segundos picos de raízes profundas aparecem com mais frequência em zonas com menos biomassa total de raízes finas e em habitats como matos mais do que em pastagens. Curiosamente, esses picos coincidem com a presença de mais azoto (nitrogénio) no solo em profundidade — um nutriente essencial ao crescimento das plantas.
“Estas raízes profundas podem ser uma forma das plantas acederem a recursos que normalmente estão subexplorados”, explicam os autores. A maioria dos estudos anteriores limitava-se a observar os primeiros 30 centímetros do solo — ou, nos melhores casos, até 1 metro — ignorando assim grande parte da história subterrânea das plantas.
Porque é que isto importa?
As raízes são essenciais não só para alimentar as plantas, mas também para o equilíbrio do carbono no planeta. Através das raízes, o carbono entra no solo e ajuda a mitigar os efeitos das alterações climáticas. Se estivermos a subestimar a presença e o papel das raízes profundas, também podemos estar a subestimar a capacidade dos solos de armazenar carbono.
“Os nossos dados mostram que os nutrientes do subsolo estão muitas vezes disponíveis mas pouco utilizados”, explicam os investigadores. “Ignorar as dinâmicas profundas do solo pode ser um erro, sobretudo num contexto de mudanças climáticas, onde a água e os nutrientes em profundidade podem tornar-se cada vez mais importantes.”
Próximos passos
Os autores apelam a mais investigação sobre este “fronteira profunda” ainda pouco estudada. Saber como e por que razão as plantas exploram o subsolo poderá ajudar a prever melhor como os ecossistemas vão reagir às mudanças no clima, e até a desenvolver práticas agrícolas e florestais mais sustentáveis.


