#PorUmMundoMelhor

Luís Cristino

O que queremos sustentar?

A pergunta levantada por Jessica Groopman — “What do you want to sustain?” — marcou-me profundamente desde que a ouvi no passado mês de Outubro. Uma pergunta profunda que merece ser cuidadosamente explorada

Desde então, tenho matutado bastante nesta questão e percebo que a resposta vai muito além do que, à primeira vista, pensamos sobre sustentabilidade. Na verdade, ela desafia-nos a reavaliar o que queremos preservar e regenerar para o futuro, enquanto indivíduos, organizações e sociedade. Esta é uma questão que todos deveríamos ponderar, porque só através dessa reflexão podemos transformar a nossa consciência e as nossas ações em algo verdadeiramente transformador.

Estamos a sustentar o quê? Sistemas que se esgotam? Cadeias produtivas que geram mais desigualdade e destruição do que regeneração? Ou estamos a sustentar algo maior e mais duradouro, que transcende a lógica imediata da salvação? Vivemos um momento em que a sustentabilidade tem que ir muito além de simples práticas de redução de lixo, carbono e consumo energético. Claro, estas são metas urgentes e necessárias, mas a realidade complexa do planeta pede-nos uma abordagem mais sistémica e ambiciosa. A sustentabilidade, como conceito tradicional, focada na preservação dos recursos naturais e redução de danos, urge ser ampliada para incorporar uma visão regenerativa. Isto significa não apenas “fazer menos mal”, mas efectivamente “fazer o bem”, criando valor partilhado para todos os stakeholders, incluindo os ecossistemas que sustentam a nossa vida. Que no fundo, não são apenas mais um – são o stakehokder essencial, o que verdadeiramente sustenta todos os outros e, por isso, devem estar no centro de qualquer estarégia de sustentabilidade.

A economia linear que impera até hoje, onde extraímos, produzimos e descartamos, tem-se mostrado insustentável e insuficiente para os desafios do século XXI. A verdadeira transformação exige uma mudança para uma economia circular, que regenera, repara e restaura. Neste novo paradigma, cada ciclo de produção, desde o design inicial até ao descarte, deve ser repensado para agregar valor a múltiplas frentes: social, económica e ambiental.

Um exemplo claro está nas cadeias produtivas que impactam diretamente os recursos naturais e as comunidades. A criação de valor, neste sentido, precisa de ser partilhada. Isto não implica apenas responsabilidade social corporativa, mas um novo modelo de desenvolvimento onde as comunidades são coautoras deste processo regenerativo. Empresas que promovem a biodiversidade, restauram ecossistemas e trabalham em simbiose com as necessidades locais não só sobrevivem; florescem, contribuindo para um ciclo virtuoso de prosperidade mútua.

Estamos, assim, num ponto de viragem. A escolha é clara: ou repensamos a nossa definição de crescimento e de sustentabilidade para criar um futuro onde não só limitamos o impacto negativo, mas aumentamos o impacto positivo, ou perpetuamos um sistema obsoleto. Para além das métricas ambientais e financeiras, é tempo de medir o nosso impacto social, cultural e ético.

Voltando, então, à pergunta de Groopman: o que queremos, realmente, sustentar? A resposta não pode basear-se apenas no que queremos preservar, mas também no que queremos regenerar e inovar. Sustentamos, no final, um planeta onde todos possam coexistir em harmonia? Sustentamos uma sociedade onde a prosperidade é acessível para as gerações futuras? Sustentamos sistemas que evoluem, aprendem e se adaptam, capazes de resolver os grandes desafios da humanidade?
A sustentabilidade, no seu sentido mais profundo, não se trata de manutenção, mas sim de evolução. Um futuro verdadeiramente sustentável é aquele em que a capacidade de regeneração é contínua, onde empresas, governos e pessoas não são apenas participantes passivos de um sistema, mas sim, agentes ativos de mudança. Sustentar, portanto, significa liderar a transição para um modelo que nutre, cura e capacita a vida em todas as suas formas. A regeneração desafia-nos a transcender a ideia de “sustentar” e abraçar a lógica de recriar.

Se realmente queremos fazer a diferença, esse é o desafio, e também a oportunidade.

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