Chefe da Aiea avalia riscos em centrais ucranianas, ameaçadas por combates; afirmou que enriquecimento de urânio em território iraniano está aumentar e que partículas foram descobertas em locais não declarados
À medida que o conflito armado na Ucrânia entra no seu quarto ano, a situação de segurança nuclear em todo o país continua “altamente precária”. A avaliação é do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, Aiea.
Na abertura da reunião da direção desta entidade, Rafael Mariano Grossi disse que a presença de equipas da Aiea em todas as instalações nucleares ucranianas continua a ser “inestimável”.
Situação das centrais nucleares ucranianas
Condições difíceis atrasaram no mês passado uma rotação de especialistas da agência na central de Zaporizhzhya, mas o processo foi concluído com segurança nos últimos dias.
Em dezembro, um drone atingiu e danificou gravemente um veículo oficial da Aiea durante uma rotação. A equipa felizmente saiu ilesa.
A agência realiza análises constantes para apoiar a segurança nuclear na Ucrânia.
Grossi afirmou que a capacidade da rede elétrica de fornecer energia externa para as usinas nucleares ucranianas foi ainda mais reduzida por danos sofridos após ataques militares em novembro e dezembro de 2024.
Enriquecimento de urânio no Irão causa “séria preocupação”
Em relação ao programa nuclear do Irão, declarou que o stock de urânio enriquecido até 60% aumentou para 275 kg, acima dos 182 kg do último trimestre.
O Irão é o único Estado sem armas nucleares que enriquece até esse nível, uma situação que o chefe da Aiea qualificou como “seriamente preocupante”.
Lembrou que já se passaram quatro anos desde que o Irão parou de implementar compromissos relacionados à energia nuclear sob o Plano de Ação Global Conjunto.
O país afirma que declarou todo o material nuclear, atividades e locais exigidos sob o Acordo de Salvaguardas do Tratado de Não Proliferação. No entanto, para Grossi, esta declaração é inconsistente com as descobertas da agência sobre partículas de urânio de origem antropogénica em locais não declarados no Irão.
A agência está a solicitar a localização atual do material nuclear e/ou do equipamento contaminado envolvido.

Inovações com uso de energia nuclear
O diretor da Aiea também apresentou avanços em aplicações nucleares voltadas para inovações em segurança alimentar, detecção precoce de doenças e tratamento do cancro, sustentabilidade ambiental e produção industrial avançada.
Uma das iniciativas mencionadas foi a Nutec Plastics, que envolve 104 Estados-membros na monitorização de microplásticos, com 42 deles desenvolvendo tecnologias de reciclagem.
Outro exemplo positivo vem da Ação Integrada de Doenças Zoonóticas, uma nova tecnologia de vigilância para agentes patogênicos de alto risco, que a Aiea irá transmitir aos países. O esforço inclui o uso de plataformas baseadas na inteligência artificial para monitorizar ameaças.
Aumento da capacidade global
Grossi declarou que atualmente existem 417 reatores nucleares que operam em 31 países e representam quase 377 gigawatts de capacidade instalada. Fornecem pouco menos de 10% da eletricidade total do mundo e um quarto do abastecimento de baixo carbono.
A Aiea estima que a capacidade global de produção de eletricidade nuclear pode aumentar até 2,5 vezes até 2050.
O diretor da agência destacou ainda que centros de dados para inteligência artificial exigem muita energia e os reatores nucleares oferecem opções limpas, confiáveis e adaptáveis, inclusive na forma de microrreatores.


