Estudos recentes revelam que a variedade de formas e tamanhos dos cães domésticos não é apenas fruto da criação intensiva das últimas décadas. Investigadores internacionais descobriram que cães com características distintas surgiram há mais de 10 mil anos, muito antes do aparecimento das raças modernas.
A equipa, liderada por Allowen Evin, analisou 643 crânios de canídeos datados de há 50 mil anos até ao período moderno, recorrendo a tecnologia 3D de ponta para estudar as diferenças subtis na forma e tamanho dos crânios. Os resultados mostram que os primeiros cães com traços claramente distintos apareceram durante o início do Holocénico, com restos datados de cerca de 10.800 anos atrás encontrados na Rússia.
Antes deste período, os crânios dos canídeos do final da Idade do Gelo eram muito semelhantes aos dos lobos, sugerindo que a domesticação começou antes, mas só mais tarde se tornaram visíveis os traços característicos dos cães. Os cães mais antigos do Mesolítico e Neolítico apresentavam dimensões dentro da gama moderna, mas eram geralmente menores e menos variados, sem os exageros físicos que hoje associamos a muitas raças.
Apesar disso, a diversidade observada foi surpreendente: os cães do início do Holocénico tinham cerca de metade da variação morfológica dos cães modernos e o dobro da dos seus ancestrais lobos do Pleistocénico. Estes resultados indicam que a diversidade de formas nos cães começou a surgir milhares de anos antes da criação seletiva moderna.
O estudo também revelou que os lobos antigos eram mais variados em forma e tamanho do que os lobos atuais, sublinhando a complexidade da evolução dos cães desde os seus antecessores selvagens.
Para a especialista australiana Melanie Fillios, este trabalho ajuda a compreender a domesticação dos cães como um processo biológico e cultural complexo, onde milhares de anos de história humana e animal estão intimamente ligados.
O estudo reforça a ideia de que a relação entre humanos e cães é muito mais antiga e multifacetada do que se pensava, e que a incrível diversidade que vemos hoje nos cães começou a formar-se muito cedo na história da domesticação.

