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Teresa Cotrim

Os dinossauros, os engenheiros da Terra que podem explicar mudanças drásticas nos rios e paisagens

Um novo estudo sugere que o desaparecimento dos grandes dinossauros herbívoros desencadeou transformações profundas nos ecossistemas continentais, alterando o curso dos rios e favorecendo o aparecimento de florestas densas.

Há muito que o impacto do asteroide de Chicxulub, há cerca de 66 milhões de anos, é considerado o principal responsável pela extinção em massa que varreu os dinossauros e muitas outras espécies no final do Cretácico. Mas uma equipa internacional de investigadores defende agora que o desaparecimento destes gigantes não só marcou a biologia da Terra, como também deixou uma assinatura visível na geologia continental.

O estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, analisou novas secções geológicas da fronteira Cretácico-Paleogénico (KPB, na sigla inglesa) nas bacias de Bighorn e Williston, na América do Norte. Através da deteção de anomalias de irídio — vestígios inequívocos do impacto do asteroide — os cientistas confirmaram que as transições entre formações rochosas coincidem com mudanças abruptas nos sedimentos dos rios e planícies aluviais.

Dinossauros de grande porte provavelmente promoveram uma estrutura de vegetação aberta que permitiu a avulsão fluvial frequente e o aporte de sedimentos clásticos para as planícies de inundação distais. Após a extinção em massa no final do Cretáceo, florestas densas de dossel fechado puderam enraizar-se, estabilizando os cinturões de meandros e privando a planície de inundação distal de sedimentos clásticos, promovendo o acúmulo de estratos ricos em matéria orgânica.

Dinossauros como engenheiros dos ecossistemas

Segundo os autores, os grandes dinossauros herbívoros funcionavam como verdadeiros “engenheiros dos ecossistemas”. Ao alimentarem-se de grandes quantidades de vegetação e movimentarem-se em massa, mantinham a paisagem relativamente aberta, impedindo o desenvolvimento de florestas densas. Esse cenário promovia rios instáveis, com canais que frequentemente mudavam de curso e depositavam sedimentos nas planícies.

Com a extinção dos dinossauros, essa dinâmica alterou-se. As florestas começaram a expandir-se, estabilizando os meandros dos rios e reduzindo a quantidade de sedimentos transportados para as zonas mais afastadas. Este novo equilíbrio ecológico favoreceu o aparecimento de ambientes pantanosos e a acumulação de camadas ricas em matéria orgânica, como o carvão, que caracteriza as formações do Paleogénico inicial.

Uma mudança visível nas rochas

As diferenças são tão marcantes que, em diversas regiões da América do Norte, a passagem do Cretácico para o Paleogénico é facilmente identificável a olho nu nos afloramentos rochosos. As camadas superiores do Cretácico mostram solos encharcados e canais fluviais instáveis, enquanto as camadas iniciais do Paleogénico revelam rios mais largos e estáveis, intercalados com depósitos de carvão.

Até agora, muitos geólogos consideravam que essas mudanças resultavam apenas de variações climáticas ou do nível freático — a chamada hipótese do “Paleogénico húmido”. Porém, a coincidência sistemática entre as mudanças de fácies e os sinais do impacto de Chicxulub levou os investigadores a propor uma nova explicação: a extinção súbita dos dinossauros teria sido o motor direto dessa reorganização ambiental.

Um novo paradigma

“O que estamos a propor é que os dinossauros desempenhavam um papel muito mais ativo na manutenção da paisagem do que se pensava”, explicam os autores. “Quando desapareceram, abriram caminho a florestas densas e a uma transformação radical dos sistemas fluviais.”

Embora o estudo se concentre na América do Norte, os investigadores acreditam que este fenómeno poderá ter ocorrido noutras partes do planeta. No entanto, admitem que ainda são necessários mais dados para confirmar se esta mudança foi global.

A ideia reforça a visão dos dinossauros não apenas como protagonistas da biologia pré-histórica, mas também como agentes com impacto direto no registo geológico da Terra — verdadeiros escultores da paisagem do seu tempo.

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