Um estudo da Universidade de Oulu, na Finlândia, revela que o pastoreio de renas desempenha um papel essencial na forma como as florestas boreais respondem às alterações climáticas de inverno, influenciando diretamente o ciclo do carbono.
As florestas do norte armazenam cerca de um terço do carbono global e funcionam como importantes sumidouros de dióxido de carbono. Para além das árvores, a vegetação rasteira e o solo desempenham também um papel central na regulação do carbono. No entanto, as alterações climáticas, que afetam a espessura e duração da cobertura de neve, têm vindo a modificar o funcionamento destes ecossistemas.

Investigadores da Universidade de Oulu analisaram, entre 2019 e 2023, o impacto da neve e do pastoreio de renas no ciclo do carbono em florestas de coníferas no norte da Finlândia. O estudo comparou zonas onde as renas continuam a pastar com áreas onde o pastoreio foi excluído durante 25 anos (em Oulanka, no leste da Finlândia) e durante 55 anos (em Kevo, no extremo norte). Foram ainda realizados ensaios que aumentaram e reduziram a profundidade da neve nestas regiões.
Os resultados revelam diferenças marcantes: em Kevo, onde o pastoreio de renas esteve ausente por 55 anos, a neve pouco profunda aumentou a libertação de carbono do solo e da vegetação rasteira, enquanto a neve mais profunda reduziu essa libertação. Pelo contrário, nas zonas onde o pastoreio se mantém, ou mesmo após 25 anos de exclusão, o ciclo de carbono manteve-se estável, independentemente da variação na cobertura de neve.
Segundo a investigadora doutoranda Noora Kantola, “isto pode indicar que as florestas boreais têm alguma resistência a alterações climáticas de inverno de curto prazo, especialmente quando existe pastoreio de renas”.

As emissões de dióxido de carbono foram monitoradas por meio de câmaras de medição, entre outros métodos. Foto: Noora Kantola / Universidade de Oulu Foto: Noora Kantola / Universidade de Oulu
Os cientistas destacam ainda que, em Kevo, a recuperação da cobertura de líquenes após décadas sem pastoreio poderá ter alterado a temperatura e a humidade do solo, influenciando os microrganismos responsáveis pela decomposição e, consequentemente, as emissões de carbono.
Para a investigadora pós-doutoral Maria Väisänen, “os resultados mostram que o pastoreio de renas pode funcionar como um amortecedor das funções dos ecossistemas, como a troca de carbono, perante condições climáticas em mudança”.
O estudo, publicado em julho de 2025 na revista Science of the Total Environment, fornece novas perspetivas sobre o papel das renas na manutenção da biodiversidade e na estabilidade dos ecossistemas do norte. Segundo o professor Jeffrey Welker, os impactos mediados pelos líquenes nas pastagens de inverno podem ter grande relevância para o equilíbrio do carbono.
Atualmente, a equipa da Universidade de Oulu continua a investigar como a interação entre o pastoreio e as tendências de longo prazo das alterações climáticas afeta o crescimento das árvores e a fisiologia florestal. Estas descobertas podem apoiar o planeamento de usos do solo em florestas boreais, sobretudo em regiões onde a cobertura de líquenes foi modificada pelo pastoreio e pela exploração florestal.