Universidade da Geórgia revela possível novo culpado por branqueamento de corais fora da época habitual: o peixe papagaio arco-íris
Investigadores da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, descobriram que o peixe-papagaio arco-íris ( Scarus guacamaia) pode estar a provocar o branqueamento dos corais tropicais ao largo da costa das Florida Keys — e não o calor, como se pensava até agora.
Florida Keys é um arquipélago de ilhas tropicais que se estende por cerca de 120 milhas perto da extremidade sul do estado da Flórida, nos EUA, entre o Oceano Atlântico e o Golfo do México.
O estudo, liderado pelo professor William Fitt da Odum School of Ecology, indica que a presença deste peixe colorido, comum no Atlântico desde a Florida até à Argentina, pode estar ligada ao fenómeno de branqueamento anual observado em abril e maio em Buttonwood Sound, uma área da Florida Keys. Estes meses não são conhecidos por temperaturas elevadas, o que levanta dúvidas sobre a verdadeira causa do problema.
Branqueamento associado a mordidas
@Peixe-papagaio. Foto cortesia de William Fitt
Os investigadores observaram que mais de um em cada três corais em zonas frequentadas por peixe-papagaio estavam branqueados. Cerca de 25% desses corais apresentavam marcas de mordidas. Já em áreas sem estes peixes, apenas 3,2% dos corais estavam branqueados — e nenhum deles mostrava sinais de terem sido mordidos.
“Se eu fosse um coral, temeria ver estes peixes-papagaio”, comentou William Fitt. “Não creio que tragam qualquer benefício para os corais”.
Peixe afeta o equilíbrio natural dos corais
O peixe-papagaio tem uma boca em forma de bico que usa para se alimentar diretamente dos corais. Ao fazê-lo, danifica os tecidos dos corais e reduz a quantidade de algas benéficas que vivem dentro deles. Essas algas, chamadas zooxantelas, são fundamentais para alimentar os corais e dar-lhes a sua cor característica. Quando os corais perdem essas algas, ficam com uma coloração rosa-pálida — um sinal claro de stress, conhecido como branqueamento.
Através de dados recolhidos pela NOAA entre 2010 e 2017, os investigadores confirmaram que as temperaturas da água só estiveram suficientemente altas para causar branqueamento em três dias de maio de 2017. Ou seja, o calor não explica o branqueamento anual.
Presença do peixe coincide com o problema
Os cientistas notaram também que o peixe-papagaio migra para a área estudada na primavera e abandona-a no verão — coincidindo exatamente com os meses em que ocorre o branqueamento dos corais. Durante esse período, as algas benéficas nos corais diminuem, quando normalmente aumentariam, o que indica que algo está a provocar stress nos organismos.
Segundo Fitt, esse “algo” é, com grande probabilidade, o peixe-papagaio.
Efeitos preocupantes para os corais
O branqueamento não é apenas uma alteração estética. Quando os corais perdem as suas algas, tornam-se mais vulneráveis a doenças e podem morrer por falta de alimento. Vários episódios seguidos de branqueamento, como os que têm sido registados todos os anos em Buttonwood Sound, podem ter efeitos devastadores.
Fitt comparou a situação à de um mosquito: “Pode parecer apenas um pequeno predador, uma chatice. Mas se forem milhões a picar ao mesmo tempo, já não é só um incómodo. Depende do número de mordidas”.
A razão pela qual este tipo de coral é mais suscetível às mordidas poderá estar relacionada com o facto de ter menos células urticantes ou de estas serem menos eficazes a afastar predadores.
Ainda não se sabe se o fenómeno se repete noutras regiões, mas nos locais estudados é extremamente comum — e preocupante.
“Se vir um coral cor-de-rosa, esse coral está com problemas”, concluiu Fitt.
